Quando se pensa em diversidade e, mais ainda, em inclusão, pode parecer que uma decisão corporativa tem o poder e a capacidade de transformar em pouco tempo um ambiente em um lugar diverso e acolhedor, onde as pessoas podem ser quem elas realmente são. Ledo engano.

A conversa da diversidade e inclusão precisa ser encarada como uma jornada, como um caminho que pode até começar com uma ou outra ação, mas que certamente será uma longa construção e aprendizado. A jornada da transformação, pautada na diversidade, traz em si potencial para mudar o mundo, e precisamos entender o papel de cada um de nós nessa estruturação

Poder ser o que realmente se é no ambiente de trabalho parece simples para alguns. Entretanto, demorei muito tempo para entender que eu era uma mulher e negra dentro de uma grande empresa, com tudo o que isso trazia de representativo. Por muito tempo, fui a “negra pintada de branco”, exercendo minhas funções sem me dar conta de que eu não estava sendo eu mesma nem valorizando a minha própria vivência.

Foi uma palestra que ouvi dentro do trabalho, sobre pessoas negras no meio publicitário, que despertou em mim a necessidade de falar sobre diversidade. Saí da palestra chorando, mas foi naquele momento que entendi que eu também podia falar, compartilhar minhas experiências, ouvir outras pessoas para formar uma rede de apoio. E assim a mágica aconteceu.

Olhando para mim mesma com foco no meu lugar de potência, novos caminhos foram abertos. Não por acaso, eu estava numa empresa que entendeu e acolheu a diversidade como um valor, investindo no letramento, na sensibilização e na conscientização de seus colaboradores.

Começamos pela questão racial, num verdadeiro trabalho de formiguinha. Antes de mais nada, ouvindo as pessoas, promovendo eventos com convidados, colocando o assunto da diversidade na pauta o tempo todo, deixando claro que o aprendizado deve ser contínuo e que estamos numa jornada sem volta. Passamos a aplicar anualmente o censo da diversidade, para entendermos quem e quantos somos e qual nosso grau de maturidade para os temas.

Continuamente, buscamos entender melhor a interseccionalidade dos nossos colaboradores e promovemos ações afirmativas para a contratação de perfis diversos, investindo numa equipe de recrutamento e seleção para termos a expertise em olhar para o lugar de potência dos entrevistados. Como consequência, ampliamos nossa ação para a nossa cadeia de parceiros, sempre que possível, impactando clientes e fornecedores, na medida em que nossos colaboradores estão alinhados com a transformação e acabam trazendo no seu dia a dia conceitos que antes não eram percebidos. Vieses que, antes dominavam as decisões e a própria comunicação, agora já são detectados antes de causarem impacto na entrega final.

Hoje, no Grupo Dreamers, podemos celebrar os 5 anos de um Comitê da Diversidade comprometido com o seu verdadeiro papel. Entendendo sua relevância na transformação e impacto direto no resultado do negócio. Além disso, no Comitê, construímos um espaço seguro para falarmos de nós mesmos e compartilhar dores e vitórias. A maturidade de olhar para trás e reconhecer onde conseguimos chegar, com a colaboração de vários times e pessoas, demonstra que trilhamos um belo caminho de transformação e que ainda há muito caminho a ser trilhado.

Neste mês da Consciência Negra, estamos novamente ouvindo colaboradores e convidados pretos sobre questões que afetam a população negra, como colorismo, feminismo negro, violência contra homens pretos, sobre nossos cabelos. Celebramos 2 anos de um programa de mentoria para colaboradores negros do Grupo, com resultados surpreendentes para mentores e mentorados, possibilitando mudança e ascensão de carreiras, visibilidade para os mentorados e aprendizado e transformação também para os mentores.

Com base na experiência que vivemos, deixo aqui o que entendemos como caminhos para a diversidade no ambiente corporativo:

- Comece ouvindo. A escuta ativa vai trazer vivências que contribuem para o olhar diverso;

- Exercite o teste do pescoço e perceba quem são as pessoas no seu time e se ele é um time diverso;

- Mantenha o assunto da diversidade sempre na pauta, seja em reuniões, seja em eventos corporativos;

- Comprometa-se publicamente com a diversidade e principalmente com a inclusão;

- Implemente ações afirmativas que realmente possam provocar a transformação do ambiente;

- Se não tem especialistas dentro da empresa, busque uma consultoria que possa auxiliar na jornada;

- Faça o censo da diversidade, para entender quem e quantos são na sua empresa.

Temos que reconhecer que estamos em aprendizado contínuo, seja pessoalmente, seja no meio corporativo. O mercado está em constante transformação, e nós, pessoas que fazem o dia a dia, somos a ferramenta em constante evolução com poder para impulsionar o próprio mercado a ser mais inclusivo.

Também demorei algum tempo para entender que não chegamos aqui por acaso e que os últimos anos foram transformadores também para mim. Como legado, já colhemos os frutos da transformação que pudemos provocar no Grupo e nas pessoas, com relatos incríveis que nos fazem ter a certeza do que estamos construindo. Fazer do ambiente de trabalho e, consequentemente, do mundo um lugar melhor para se viver, e com segurança para que cada um possa ser quem verdadeiramente é.

Debora Moura é head de diversidade & inclusão do Grupo Dreamers