Ainda, e por um bom tempo, muitos dos números referentes ao ambiente digital devem ser lidos e analisados com os dois pés atrás. Definitivamente falta consistência e seriedade. A começar que, até hoje, para o constrangimento e a vergonha de todos que se calam, as big techs trilhonárias em duas décadas limitam-se a informar quantas pessoas viram posts e vídeos por três segundos... Algumas um pouquinho mais... Definitivamente, é uma piada. Sabem exatamente quantos minutos, segundos e frações foram, mas, para não revelar a verdade por inteiro, insistem na prática deletéria e tóxica, e as empresas, resignadamente, calam-se... E... Pagam! Mais que merecem.

Nas últimas Olimpíadas, atletas vencedores brasileiros viram o número de seus seguidores escalar nas redes sociais. Definitivamente não era consistente e muito menos sério. Não que não merecessem. Apenas manifestações espasmódicas, em meio à forte emoção de uma manhã, tarde, dia, índice, recorde, medalha, que, assim como aconteceu, se não for sustentada por conteúdo minimamente de qualidade, desvanecesse em poucos dias, semanas, exagerando... Três meses. Evapora, sem nem mesmo deixar registros de verdade. E assim, de um dia para outro, naquele momento, nossos heróis olímpicos escalaram.

Rayssa Leal, quarta skatista começou os jogos, e após toda a divulgação de seu nome e retrospecto com 870 mil seguidores. Veio a medalha, saltou para 6,5 milhões. Douglas Souza, do vôlei, saltou de 1,8 milhão para 3,2 milhões. Italo Ferreira, surfista, de 1 milhão para 3 milhões. E Rebeca Andrade, ginasta, de 250 mil para 2,2 milhões. Nossos heróis receberam, mais que merecidamente, todas as homenagens e felicitações, queridos brasileiros que chegaram lá, mas, definitivamente, está mais que na hora de as empresas pararem de se enganar levando a sério esses números como referência para a construção de estratégias e definição de políticas de comunicação. Branding de excepcional qualidade! Que é o que toda a empresa precisa. Com esses números, mesmo os recordistas da última Olimpíada, não figurariam nos rankings dos chamados “Influenciadores do Brasil” (Socorro!)

Naquele momento, por exemplo, segundo o jornal Extra, e referindo-se a uma espécie de ranking do primeiro semestre de 2021, a liderança disparada era de Neymar, com 150 milhões de seguidores; vindo Ronaldinho Gaúcho na segunda posição, com 1/3 dos seguidores de Neymar, 53 milhões. E depois, pela ordem, vêm Anitta, Whindersson Nunes, Marcelo Vieira Jr., Tatá Werneck, Bruna Marquezine, Gustavo Lima, Larissa Manoela, Marina Ruy Barbosa, Maisa Silva, Marília Mendonça, Wesley Safadão, Ivete Sangalo, Daniel Alves, Simone Mendes, Paolla Oliveira, Luan Santana, Sabrina Sato, Juliana Peres, Kevinho, Eliana, Juliette, Giovanna Ewbank, Isis Valverde na 25ª colocação, com 25,3 milhões de seguidores... Muitas vezes mais que o primeiro atleta olímpico...

Hoje, mais de um ano depois, prevalece o aprendizado, claro, para quem estiver interessado e for sensível e profissional na gestão dos recursos sempre escassos das empresas: jamais recomende a contratação de qualquer suposto influenciador para incrementar o branding de sua empresa pelo número de seguidores. Merda na certa. Apenas e pela qualidade da referência que é para todos aqueles que verdadeiramente o admiram. E se a referência tem consistência. E, depois e ainda, conseguindo passar por uma série de outros e importantes filtros. Para não correr o risco de jogar dinheiro fora, e, principalmente, associar a marca de sua empresa com uma celebridade fugaz, de pouca relevância ou, pior ainda, com conotações negativas e sentimentos, a seu respeito, deploráveis. Curto e grosso, só recorra ao testemunhal dos tais influenciadores em condições excepcionais e depois de infinitos filtros. Pensando, no mínimo, três vezes antes de decidir. Mantendo-se sempre preparado porque, a qualquer momento, literalmente, repito, são elevadíssimas as chances de dar merda.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
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