“Quem não se comunica, se trumbica”, já dizia Chacrinha, considerado o maior comunicador da televisão brasileira, apresentador de programas de auditório de grande sucesso das décadas de 1950 a 1980.
É raro encontrar uma frase de outras décadas que se mantenha tão verdadeira e relevante. No campo da comunicação, o mundo passou por transformações radicais: surgiu internet, celular, G3, WhatsApp, G4, G5, inteligência artificial, e tantas outras inovações.
O canal pode mudar, mas uma coisa permanece imutável: a habilidade de comunicar, de forma precisa, convincente e compreensível, sempre será uma capacidade essencialmente humana.
Alguns anos atrás, estava negociando a compra de um imóvel e decidi dar uma parte como entrada, financiando o restante. Com a ajuda de uma imobiliária negligente, só após pagar a primeira parte da entrada, descobri que os proprietários tinham seus nomes negativados, o que impedia o financiamento. Foi um choque. Em meio a milhares de e-mails, áudios e textos de WhatsApp e muitas trocas de farpas, assistia o sonho de ter meu primeiro imóvel cada dia mais distante. Precisava reverter essa situação, mas como?
Em desespero, conversei com meu pai, que sabiamente me disse: ‘Você precisa melhorar sua comunicação’. Foi a partir desse momento que iniciei minha jornada para aperfeiçoar a maneira como sou interpretada. Por indicação de uma amiga descobri a CNV - Comunicação Não Violenta, desenvolvida por Marshall Rosenberg nos anos 1960. Basicamente, é uma abordagem de comunicação que busca promover relacionamentos mais autênticos e empáticos. Eu me identifiquei com a linha de pensamento do autor e sabia que precisava me aprofundar mais.
Fui para um retiro de quatro dias, onde mergulhei em sessões alternadas de meditação e aulas sobre CNV. Durante esse período, aprendi profundamente sobre escuta ativa, vulnerabilidade, autorreflexão e compreensão dos meus sentimentos e como expressá-los de maneira positiva, que construa um vínculo genuíno com o interlocutor.
Hoje, após 8 anos morando no imóvel negociado, acredito que minha comunicação ainda tem espaço para evoluir. No entanto, reconheço que, como emissora, sou responsável pela compreensão da mensagem do meu receptor, representando um grande avanço.
A frase instagramável “Sou responsável pelo que eu falo, não pelo que você entende” é uma das maiores falácias dos dias de hoje. Prefiro me inspirar no sábio conselho do mestre da comunicação de décadas passadas e repito a todos que não conseguem se fazer entender: “Quem não se comunica, se trumbica”.
Júlia Greghi é diretora de marketing da Adsplay