Passei parte da minha juventude mergulhado em salas de cinema. Chegava a assistir três filmes num mesmo dia. Dias atrás a Folha publicou os resultados da pesquisa realizada pelo Datafolha, ‘O melhor de São Paulo’. 53% das manifestações apontaram a Rede Cinemark como grande vencedora. Pelo 5º ano consecutivo.

E aí vem a matéria, e entrevistas com profissionais da Cinemark. E no segundo parágrafo, o maior desafio: “A rede tem buscado retomar a presença do público com novidades nas bombonieres e experiências personalizadas...”. Clube de Assinaturas, com três pacotes diferentes. A mais barata custa R$ 16,90 por ano, com direito a um ingresso anual e desconto em produtos. E a mais cara, R$ 38,90 por mês. E ainda, incrementar o cardápio das bombonieres com mais opções de doces, pipocas com creme de avelã, confetes de chocolate e cookies. E nas chamadas salas prime pizzas, sobremesas, vinhos, cervejas e drinques...

Não obstante todo esse empenho, as salas escuras seguem definhando. No ano passado, 2023, a presença foi 34% menor do que em 2019, último ano antes da pandemia. Essa espécie de pausa forçada acelerou a decadência. E, para pior, a perda de atratividade dos filmes nacionais, que nos bons tempos representavam quase 15% do total de ingressos vendidos, contra apenas 3,2% de 2023.

Menos grave, mas não diferente, a situação nos Estados Unidos, onde, no mesmo período, a arrecadação dos cinemas foi 20% menor do que no ano anterior à pandemia. Nada é para sempre. E para agravar mais a situação dos cinemas nos shoppings, onde boa parte deles definha, em alguns dias, menos de 100 pessoas no conjunto das sessões...

E aí, e como acontece no final da divulgação dos resultados de cada categoria da pesquisa, a ficha básica. “Cinemark. Fundação, 1997; Unidades, 627 salas; Funcionários, Não Divulga; Faturamento, Não Divulga; Crescimento: Não Divulga.  Não me lembro da última vez que fui a um cinema... Itaú saindo de onde jamais deveria ter entrado Muito bom uma empresa associar sua marca a manifestações relevantes a cultura e às artes. Mas, e apenas, associar, jamais, ser sócia ou proprietária.

A história da rede Itaú de cinemas inicia-se no ano de 1989. Antes, uma associação entre o Banco Nacional. Que mais adiante resultou no Espaço Banco Nacional de Cinema da Rua Augusta. Onde durante anos funcionou o Cine Majestic. E aí um dia o Unibanco é convocado pelo Banco Central para salvar o Nacional. E, já que veio junto o Espaço Banco Nacional, e que o Unibanco tinha o Instituto Moreira Sales, e os herdeiros do embaixador gostavam de cinema, o Nacional converte-se em Espaço Nacional de Cinema e a rede multiplica-se por várias cidades do Brasil. E aí o Unibanco é incorporado pelo Itaú e leva consigo dezenas de salas de cinema em diferentes cidades do Brasil.

A partir de 2010, e como já vinha acontecendo na rotina do maior banco do país, Unibanco foi deixando a cena principal, ficando nos bastidores, a marca Itaú prevalecendo, e...  Espaço Itaú de Cinemas.

A iniciativa ganhou uma sobrevida de mais alguns anos, e foi encolhendo. E agora desaparece por completo. Dias atrás o Itaú vendeu sua parte no negócio a um grupo paranaense – Cinesystem –, completando todo um longo processo de desfazer-se de iniciativas que jamais teria, mas que vieram juntas no processo de compras, incorporações e fusões do mercado financeiro das últimas cinco décadas.

Definitivamente, cinema não faz parte do phocus de bancos. Assim como uma série de outras iniciativas. E imagino que por vontade própria, o Itaú jamais teria se aventurado nesse negócio, que definitivamente não tem nada a ver com seu business. Mas era um tempo de um Brasil onde as empresas costumavam ter, possuir, comprar... e os irmãos Moreira Salles eram e seguem apaixonados por cinema...

Parcerias e patrocínios, desde que relevantes e essenciais ao posicionamento da instituição e a processo de branding, sim! Propriedade e sociedade, fora do business e por mais simpáticas que possam parecer, jamais!

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
fmadia@madiamm.com.br