Até 30 de setembro, estarei envolvido com uma campanha política. Envolvido, no bom sentido, trabalhando nela. Quem é do ramo sabe: é mais ou menos como um BBB, sem transmissão ao vivo. Foco 24 horas por dia, sete dias por semana, uma verdadeira batalha. Em vez de balas, ideias. Sim, em alguns casos, balas. Mas cabe a nós, criativos, usar o nosso arsenal de talento para tornar discursos convincentes; programas, atraentes, e candidatos, as melhores escolhas para o voto.

O Brasil é pródigo na geração dos chamados marqueteiros, e a Bahia, o seu maior “exportador”. Da mesma forma que, na década de 1980, o Rio Grande do Sul abasteceu o país com dezenas de excelentes redatores publicitários, o solo baiano, faz tempo, é fértil em fazer brotar criativos com vocação para campanhas políticas. Da minha geração, o maior deles foi Duda Mendonça. Redator talentosíssimo, depois de alcançar a glória como publicitário, encontrou no marketing político a oportunidade de influenciar nos destinos não só da Bahia, de outros estados, mas principalmente do país, ao eleger Lula presidente.

Outro profissional emblemático nessa área é o também baiano Nizan Guanaes, que fez história em campanhas para Fernando Henrique Cardoso. Dois expoentes que inspiraram muitos conterrâneos a enveredarem por esse caminho profissional. É difícil, hoje em dia, você compor uma equipe de marketing político sem a presença de baianos. Formam uma verdadeira escola. Com grande influência não só no Brasil, como no exterior. Os cases nacionais de marketing político são saudados lá fora com o mesmo entusiasmo que tradicionalmente reconhece o valor dos Leões que os brasileiros já perderam a conta de ganhar em Cannes. Acredito que todo esse sucesso pode ser creditado à capacidade dos brasileiros de desmistificar tudo. Ou seja, para nós, tanto faz o que precisa ser anunciado, tanto faz se estamos tratando do futuro de uma marca de sabonete ou do futuro do país. Tudo é apenas a oportunidade para colocarmos o nosso talento em ação. Provavelmente, em outros países, haja uma certa dificuldade de nivelar as coisas desse jeito, um certo escrúpulo buscará tratar a política com um pouco mais de reverência. Aqui, não.

Políticos e ideários são encarados como produtos a serem embalados para a conquista de eleitores/consumidores. E a população passou a considerar a qualidade das campanhas como um fator importante na sua decisão. O caso de Lula é emblemático. Duda Mendonça não pediu que o candidato ficasse mais à direita para se eleger. Mas adequou a sua forma de expressão, deu-lhe um banho de loja, e o tornou um produto palatável para aqueles que, até então, estariam dispostos a votar em Lula, mas não “daquele jeito”.

Talvez resida aí o principal mérito do afamado marketing político brasileiro, essa capacidade de trabalhar a forma, de maneira que o essencial se torne encantador. Compreendemos que se há de se ter um certo cuidado ético no que se refere ao conteúdo, a forma tem um código moral bem mais elástico, aumentando muito o seu arsenal de possibilidades criativas. Nossos profissionais descobriam essa fórmula e encontraram nela o espaço ideal para o uso do seu talento. Na volta, eu digo se deu certo comigo. Até lá.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
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