Muito mais do que uma celebração, o dia e o mês das mulheres representam a luta feminina contra a desigualdade de gênero. É uma data fruto de greves e protestos que deram início à reivindicação pela equidade de direitos e, portanto, um lembrete de que, apesar dos avanços e melhorias já alcançados pela população feminina nas últimas décadas, ainda existem muitas barreiras socioculturais que precisam ser quebradas para conseguirmos livremente ser quem quisermos e ocuparmos os espaços que desejarmos.

Mesmo realizando grandes feitos em carreiras artísticas estrondosas e bem-sucedidas, ainda é comum nos deparamos com mulheres sendo resumidas e limitadas a aspectos superficiais, como idade e padrões de beleza inalcançáveis. Mas são essas mulheres que usam suas forças para levantar bandeiras relevantes sobre o tema e estimular conversas e debates e evidenciar a urgência de evoluirmos como sociedade.

O início desde ano foi marcado por megaeventos internacionais e julgamentos assim acontecendo. No Grammy, Super Bowl e mais recentemente na cerimônia do Oscar, por exemplo, as mulheres estiveram entre os assuntos mais comentados e julgados na mídia e nas redes sociais. Não somente por suas performances e trabalhos, mas sim por suas posturas, corpos e idades.

Rihanna foi o estouro do Super Bowl, revelando ao showbiz sua segunda gestação e voltando aos palcos após sete anos no pico da maior audiência televisiva americana. A estrela pop deu um show de imprevisibilidade. Aos 34 anos, a cantora, compositora, atriz e empresária deu a letra ao conseguir o feito quase improvável de guardar segredo sobre sua gravidez e construir seu próprio “release-espetáculo”, provando que além de não ter nada a ver com doença, lugar de grávida é onde ela quiser e o anúncio pode ser feito como ela bem entender.

Madonna foi o assunto mais debatido do Grammy. Ela não ganhou um, mas arrebatou adjetivos pouco comedidos a respeito de sua aparição surpresa na cerimônia semanas após anunciar sua nova turnê global. Na premiação de 2023, a popstar surgiu no palco para anunciar o duo Sam Smith, pessoa não binária, e Kim Petras, a primeira mulher trans a se apresentar e a ganhar o prêmio em toda a história da celebração. Mas, apesar de seu discurso de homenagem para dupla, a história que reverberou foi outra.

Pela primeira vez em toda sua trajetória, foi seu rosto que chamou mais atenção do que seu corpo ou a roupa que estava usando. Sob as luzes de um palco do qual ela é íntima, Madonna foi, do alto dos seus quase 65 anos, massacrada. Independentemente de qualquer opinião sobre se teria feito preenchimento em excesso ou “vergonha que faltou” de se mostrar inchada em público, “invisilibilidade” é o lugar reservado às mulheres maduras pelo etarismo enraizado na sociedade, que julga como elas são esperadas que envelheçam “bem” e desapareçam.

Saindo do mundo pop e voltando há quase 140 anos, em um tempo extremamente machista, quando a mulher sequer tinha direito ao voto, uma americana mudou seu roteiro e de milhares de mulheres da sua e de futuras gerações. Florence Persis Albee, do alto de seus 50 anos, viúva e com dois filhos para criar, foi protagonista de sua própria história ao se tornar a primeira vendedora por relacionamento de produtos de beleza. Na época, ela não somente acreditou no seu tino comercial e empreendedor, como fez uma revolução no marketing, construindo o modelo da venda através da consultoria e recomendação, ainda central dentro da indústria da beleza. Hoje, mais de 1 milhão de mulheres no Brasil geram renda graças a ela.

Se olharmos para a evolução social e cultural e para pautas que permeiam o universo feminino e suas conquistas, podemos enxergar movimentos importantes, mas ainda estamos longe do ideal. A cada #8M esperamos avançar mais e abrir caminhos para outras Albees, Rihannas e Madonnas. Angela Davis nos representa quando afirma “não estou mais aceitando as coisas que eu não posso mudar. Eu estou mudando as coisas que não posso aceitar”. Que todos nós sejamos inspirados com a determinação das mulheres que vieram antes, de seus desejos de equidade e representatividade. A luta de uma é a conquista de toda a humanidade.

Viviane Pepe é diretora de comunicação da Avon Brasil.