A situação de grande parte das chamadas médias empresas brasileiras é, simplesmente, dramática. Ou, desesperadora. Tudo começa com a chamada década perdida, 2011 a 2020, onde a economia do Brasil, em termos reais, voltou para trás. Nosso país amanheceu no dia 1º de janeiro de 2021, o primeiro da nova década, muito menor do que foi dormir no dia 31 de dezembro de 2010. Em termos reais. Em toda a década, um crescimento pífio, na casa de 1%.

E assim, quase todas as empresas, muito especialmente as ligadas às atividades onde sempre é possível para seus clientes adiarem compras, como é o caso da moda, ingressaram no ano de 2020, o último da década perdida, mais que debilitadas, e não aguentaram o rojão da pandemia.  Dentre as vítimas, um exemplo mais que emblemático, o da Cavalera hoje, em recuperação judicial.

A Cavalera nasceu no ano de 1995, sociedade de um empresário da moda e político, Alberto Hiar, mais conhecido como Turco Loco, e um dos irmãos do conjunto Cavalera, Igor Cavalera. Anos depois, Igor deixou a empresa, a denominação seguiu devido a seu grande sucesso, e a qualidade e consistência da narrativa Cavalera. E no correr de seus 25 anos, a marca contou com algumas das melhores revelações de fashion designers.

Nos dados oficiais atualizados pela empresa no Wikipédia, uma produção de 500 mil peças por ano, 20 lojas próprias, dezenas de franquias, e presença em 800 pontos de vendas multimarcas em todo o Brasil. E aí veio a pandemia, e o que estava ruim mergulhou no pior. A começar pelo fechamento da mais que emblemática loja da Cavalera, na rua BEST – Brand Experience Street - Oscar Freire, a rua das flagships das principais marcas, muito especialmente no território da moda. E, em 2021, a notícia da recuperação judicial, agravada por briga no controle e comando da empresa familiar. Ainda 10 anos atrás, falando à imprensa, o fundador da Cavalera Alberto Hiar – o Turco Louco – ex-deputado estadual pelo PSDB de São Paulo, explicava uma das razões do sucesso da marca: “A Cavalera se reinventa quatro vezes por ano, a cada estação”. E sempre recorrendo a manifestações inovadoras e emblemáticas como lançamento de coleções no Rio Tietê; na Galeria do Rock, com a presença de Paulo Miklos; mais Museu do Ipiranga; Minhocão e muitos outros.

De certa forma essa situação, em maiores ou menores proporções, é semelhante à de centenas de empresas e, em especial, às ligadas à moda e à beleza. Que vieram sobrevivendo e rolando dívidas durante toda a década, e, quando acreditavam estar próximas da salvação, viram a situação piorar com a paralisação da economia em função da pandemia. Nessa devastação outros players famosos seguem o caminho e vivem a mesma agonia da Cavalera: Le Lis Blanc, Dudalina, Rosa Chá, Le Postiche, Via Uno, TNG e muitas outras mais.

Todas as pessoas que, por alguma razão, deixaram de passar pelas principais ruas dos Jardins nos últimos dois anos, quando retornarem não reconhecerão. Na Lorena, Oscar Freire, Haddock Lobo, Bela Cintra, Augusta, dezenas de lojas fechadas, e a presença de lojas franco atiradoras que as pessoas jamais imaginaram encontrar um dia naquela região. Algumas empresas e lojas mais consistentes aproveitam o momento e a oportunidade, e passam a figurar com suas marcas na BEST – Brand Experience Street –, a Oscar Freire, como fez A Granado, que passou a ocupar um ótimo ponto comercial na Oscar Freire, com a Granado no térreo, e sua outra marca, Phebo, no piso superior. Curto e grosso, a pandemia tirou de moda – tomara e ainda que provisoriamente – algumas das estrelas da moda.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
famadia@madiamm.com.br