Desde o estabelecimento da Lei 14.233, a chamada Lei Cidade Limpa, em 2006, eu venho usando este espaço para me insurgir contra a forma como a qual ela foi instituída e aplicada, provocando quebradeira no setor e perda de empregos.

Não que não fosse necessária uma “limpeza” na poluição visual existente em São Paulo antes da lei. Era outdoor se sobrepondo a
outdoor, backlights encobrindo frontlights, faixas de tecido em toda esquina… Uma zona, realmente!

Mas o que fez o prefeito – Kassab, à época – foi arbitrário e dramático, zerando tudo, jogando o bebê junto com a água suja da bacia. Empresários de OOH foram ao desespero e o setor deu uma murchada, já que a cidade de São Paulo é, de longe, o maior mercado do Brasil nessa área.

Antes dessa medida violenta, o Rio, por exemplo, já tinha regras claras para a mídia exterior, proibindo seu uso junto à praia e outros pontos, mas liberando em outros lugares.

Achei, portanto, uma medida radical e, por mais que reconheça o bom resultado, em termos de poluição visual, não concordo em curar um mal matando o paciente. Seria como proibir a circulação total de veículos para se evitar a poluição do ar.

Pois bem, o tempo foi passando e, lentamente, tem havido uma flexibilização sendo realizada na cidade. Um bom exemplo foi o mobiliário urbano, que trouxe de volta relógios e abrigos de ônibus com publicidade. Sinceramente, não acho que peças como essas “poluem” uma cidade cosmopolita como São Paulo.

Não dá para pretender uma megalópole como essa com paisagens bucólicas, sem a presença de peças marcantes de comunicação. Assim como não dá para imaginar Times Square, em Nova York, sem seus megapainéis luminosos e a proliferação de mensagens publicitárias. Ou Hong Kong, sem seus famosos luminosos.

Aliás, todas as grandes cidades do mundo têm como característica um ambiente de múltiplas manifestações visuais, inclusive publicitárias. Na minha opinião, São Paulo precisava de uma regulamentação mais rigorosa naquela época. Não zerar tudo!

Bem, mas o motivo que me faz voltar ao assunto é a iniciativa do presidente da Câmara, o vereador Eduardo Tuma, de apresentar um projeto de lei que permite a instalação de outdoors e peças publicitárias no topo de edifícios em São Paulo.

Acho mais do que oportuno. A escolha do topo de edifícios para a liberação mantém o ambiente das ruas ainda sem peças publicitárias mais próximas, na altura dos olhos dos passantes, e dá mais fôlego ao setor, movimentando a economia e gerando empregos. Os puristas se manifestarão (já estão fazendo isso), achando um absurdo fazer voltar a tal poluição visual.

Olha, a criatividade que vemos nos grandes festivais publicitários do mundo nos mostra que, se bem regulamentada, a mídia OOH (Out of Home) torna as cidades mais interessantes, mais criativas, muitas vezes encobrindo a feiura de ambientes degradados.

Uma cidade limpa é aquela que cuida bem da limpeza literal dos seus ambientes e evita a proliferação de faixas clandestinas e cartazes ilegais.

Uma cidade limpa é aquela que cuida dos espaços públicos com esmero, sem deixar
de criar ambientes mais interessantes para seus moradores, como a Avenida Paulista fechada aos domingos, com a sua multiplicidade de atividades. Ou as viradas culturais e esportivas.

Não me entenda mal: não quero a volta daquele monte de tabuletas malcuidadas de outdoors se sobrepondo. Isso, sim, enfeia a cidade.

Também não quero peças publicitárias encobrindo arquitetura de qualidade, parques e áreas verdes. Mas está mais do que na hora de um projeto criativo e cuidadoso de ocupação dos espaços da maior cidade do país por uma publicidade controlada e regulamentada.

Por isso, aplaudo a iniciativa do vereador Eduardo Tuma e todas aquelas que trouxerem mais liberdade criativa para dar mais colorido à nossa São Paulo cinza.