A transformação digital é tema recorrente, abrangente e inesgotável. E se tornou fluente nesse ano de 2020, para muitas pessoas perdido, mas que em minha opinião não é bem assim que esse ano toca. Ele alavancou possibilidades não ativadas. Como a busca por harmonizações da tecnologia com as pessoas. Que não tinham tempo na agenda para gerir a adequação de modelos.

O ano não é e não será perdido porque eu o encaro como um período sabático. Ou seja, dedicado a uma experiência mindfulness. Fundamental em tempos de reorganização de metodologias, sistemas e visões. Nesses períodos, a reflexão é um exercício disruptivo. Uma aliada para acumular dividendos no futuro. As perdas econômicas são inevitáveis, mas que tal ver valores que vão se agregar definitivamente ao nosso mindset?

O trabalho aumentou e evoluiu. As redomas caíram por terra. As reuniões e decisões coletivas não são simplesmente uma herança. Já devia ter rolado. Mesmo a distância, a fluidez do engajamento digital corroborou uma transformação que, no meu modo de entender, é duradoura. Essa nova fluidez é como um WD 40 que desenferruja e elimina ruídos.

Claro, há momentos que sigilos precisam ser preservados. Mesmo assim, há mais compartilhamento de dados e, consequentemente, mais confiança.

 O que quero deixar claro é que as empresas não são mais apenas empresas. Com mais gente junta, mesmo em home   office, o prazer mais relevante é o crescimento da cultura de qualquer marca, produto ou serviço. Cultura é sinônimo de pessoas.

A inequívoca transformação é ver que o discurso ganhou vida. Muita coisa mudou em seis meses. O digital já estava em plena consolidação, mas havia nichos que ainda eram dependentes químicos de um mundo que já disse adeus às formas anteriores ao fenômeno digital.

Mesmo quem não estava acessível, a necessidade digital exigiu tomada de posição. Urgente! Os beneficiários do plano de incentivo financeiro de R$ 600 do governo tiveram de baixar o aplicativo Caixa Tem. Que veio para ficar. Esse app foi além do projeto. A Caixa habilitou novos correntistas sem a métrica tradicional. Claro, há que comprovar procedência. Para evitar falcatruas.

A transformação digital nessa pandemia incorporou pessoas. Pessoas divergem, mas no final convergem. Vi isso na The Group. E nos nossos clientes. O Santander, por exemplo, se concentrou nas pessoas. É disso que se trata. O que a gente pode fazer por você hoje? Essa era a pergunta do Santander antes. Ela permaneceu. E a resposta foi oferecer solução pragmática. A beleza do marketing e da comunicação é a sua capacidade de adequação. Sem mimimi. Com serviços de valor.

Minha inspiração para compreender que a transformação digital é mais do que uma questão de viés tecnológico foi ver que resiliência e empatia são mais do que assets. Tem de estar na cultura, na veia, nos olhos. É tempo de mitigação. De formalizar uma cultura natural! As pessoas entenderam de forma suave que era hora de não rejeitar o que os apps podem fazer por elas já.

A transformação digital só seria factível se deixasse o ambiente acadêmico dos iniciados para gerar benefícios para as pessoas.

Transformar é formar uma nova atitude para imprimir na consciência das pessoas um jeito sem jeitinho. O digital fica acessível quando os manuais se sobrepõem à facilidade que os mecanismos digitais devem ter.

A transformação digital deve ter a leveza da compreensão infantil. As crianças pegam um celular e já se familiarizam intuitivamente.

Esse tema tem concentrado minha atenção. Tudo gira em torno da transformação. Antes de propor, me transformei. Olhando para a necessidade das pessoas que estão do outro lado da questão. E do balcão.

Fernando Guntovitch é CEO da The Group