O conceito “controle da mídia” costuma doer nos ouvidos de quem defende a liberdade de expressão. Concordo que doa. Primeiro, porque é equivocado, inclusive por falta de abrangência. Se, por um lado, recomendar bom senso nas mensagens que chegam às massas populares é necessário, a fim de evitar o estímulo a episódios como os registrados no Distrito Federal, em 8 de janeiro, há que, por outro, se abandonar a simploriedade de atribuir à mídia sua maior responsabilidade, ainda que se inclua nessa panela a mídia digital. Ao assistir alguns vídeos, tomados durante a detenção de cerca de 1.500 pessoas no ginásio da Polícia Federal, em Brasília, constatei algo muito mais sério do que a proliferação de fake news pelas tiazinhas desocupadas do zap. As várias centenas de “religiosos” entoando hinos, num estado de hipnose coletiva, no melhor estilo “estado islâmico”, denuncia bastidores de uma doutrinação massiva e invisível ao dia a dia da grande mídia.

Esses fanatizados, formados em milhares das chamadas igrejas, estabelecidas por todo o país, não seguem necessariamente os “conselhos” do Rodrigo Constantino, na Jovem Pan, talvez nem o conheçam. Tampouco, frequentem as páginas da Carla Zambelli ou deem atenção às declarações do Allan dos Santos. Certamente, esses conservadores extremistas citados contribuem para colocar fogo em quem já está suficientemente “abastecido” por seus pastores.

Mas a determinação irracional, inconsequente e com traços de disposição homicida e suicida, é resultado de um processo continuado e sistemático de alteração de estados mentais. Através do terror religioso, milhões de vulneráveis são induzidos, há muito tempo e cotidianamente, a uma batalha contra o “mal”, a formar o “exército” que vai expulsar os “demônios comunistas” do Brasil, salvaguardando “a nação de Jesus Cristo”. Nenhum jornalista da Gazeta do Povo ou da Revista Oeste (expoentes da mídia de extrema direita) chega perto da competência dos bispos das igrejas neopentecostais na inflamação de hordas de desvairados. Esse jornalismo “alternativo”, no máximo, repercute o discurso conservador de empresários dispostos a pagar por isso. Focar, portanto, em censurar programas de TV por assinatura, que lutam todos os dias para escapar do traço de audiência, alguns recorrendo às verbas de merchandising de clínicas para de calvície para sobreviver, é absolutamente inútil e só causa desgaste ao governo. É preciso parar imediatamente de falar em controle da mídia. A maior ameaça à democracia não está na comunicação de oposição, por mais radical e extremista, pois ela sempre dependerá do voto para fazer-se legítima.

A real ameaça está na perda irremediável de juízo da população. Não como resultado de narrativas com diferentes versões para os mesmos fatos, difundidas, por um lado e outro, pela infinidade de meios disponíveis. Mas pela criação de uma realidade paralela, adotada por quem desenvolve uma fé resultante de um estado de esquizofrenia. Isso está documentado nas inúmeras imagens de pessoas ajoelhadas, rezando aos prantos ou comemorando histericamente informações falsas, ou em senhores espumando, enquanto clamam uma intervenção militar, ou em coitados enfiados em pseudofardas, marchando feito autômatos, todos revelando grave desequilíbrio mental. Essas pessoas estão doentes. Devem ser tratadas. E os responsáveis por seus males, identificados e punidos.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketitng
stalimircom@gmail.com