Basta um fato adverso e lá vão os negativistas rapidinho para o campo das desculpas e das justificativas para não fazer e prever o pior. Surge o boato de que o Black Rock, maior fundo de investimento do mundo, estaria colocando fichas em empresas petrolíferas e até de carvão, por conta da crise energética no Hemisfério Norte, em função da invasão da Rússia na Ucrânia, para começarem a se lamuriar.
Outros, preocupados com uma possível crise econômica mundial, preveem um maior pragmatismo por parte das empresas, focando a gestão de forma mais rigorosa, sem as “distrações” do ESG.
Acabou o ESG! Dizem os pessimistas. Precisamos lembrar que os critérios ESG ganharam importância quando Larry Fink, o todo-poderoso CEO do Black Rock, cobrou das empresas uma postura mais sensível com relação às pessoas e ao planeta.
Nos seus comunicados aos CEOs, Fink afirmava que seu fundo iria analisar, não só a performance financeira das empresas, mas também suas ações em benefício da sociedade e do meio ambiente. Não se esperava uma atitude meramente altruísta, mas uma questão de risco mesmo.
Empresas que não se preocuparem com sua pegada de CO2 ou que não forem capazes de atrair os melhores talentos, por conta de uma política de diversidade e inclusão, podem ficar para trás e perderem rentabilidade no futuro.
À medida em que sociedade cobra das empresas uma postura mais alinhada aos princípios ESG, há um risco de imagem àquelas que resistem à pauta de proteção ao meio ambiente, de sensibilidade às questões sociais e de governança ética e transparente.
Mas basta um tropeço no meio do caminho para alguns negarem essa tendência irrefutável. Sim, é fato que alguns países da Europa e os EUA estão sendo impelidos a usar energia suja, principalmente carvão, em função da escassez de petróleo e do gás natural, devido ao conflito Rússia-Ucrânia. Há quem diga que as metas desses países de redução de CO2 e reversão do aquecimento global até 2030 já estariam comprometidas. Seria esse o sinal de uma reação em cadeia: os governos relaxam suas metas e as empresas se sentem desobrigadas a acelerar seus planos de ação ESG. Será verdade? Sinceramente, não acredito.
A economia mundial está num momento delicado, sabemos. Mas tudo isso não me parece suficiente para conter um movimento que ganhou volume e tração crescentes ao longo dos últimos messes.
É como querer conter um tsunami com uma parede de papel. A onda de conscientização em torno dessa pauta ganhou adesão expressiva de conselhos e alta administração de empresas, incluindo uma enorme visibilidade aos bons – e maus – exemplos.
Ou seja, as empresas continuarão a ser cobradas por uma atitude coerente e sensível aos problemas da sociedade e do planeta. O aquecimento global e a degradação do meio ambiente não serão contidos, se não houver uma reação contundente por parte de governos e do setor empresarial. A desigualdade existente no mundo inteiro não será diminuída sem ações afirmativas.
O mundo não será mais justo e inclusivo sem a aplicação de uma governança ética e transparente. Tem gente que adora ver o copo meio vazio, prevendo uma piora no quadro existente, em função da crise internacional.
Outros preferem ver o copo meio cheio, vislumbrando a continuidade de iniciativas positivas de empresas que já incorporaram a agenda ESG transversalmente da sua administração.
Já entendem que a função maior das empresas, mais do que lucrar no curto prazo, é gerar valor para seus acionistas, buscando a perpetuidade de seus negócios, mas também para todos os stakeholders.
Nossa torcida é a de que mais e mais empresas vejam esse copo encher, gota a gota, iniciativa a iniciativa, independentemente da conjuntura internacional momentânea.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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