Num artigo que escrevi aqui nesse mesmo espaço um tempo atrás falando sobre agência ser algo legal, um amigo dono de uma, no interior de São Paulo, me perguntou qual seria o segredo para ser relevante para os clientes nesses tempos que vivemos. Pensei muito sobre isso. Devem haver várias respostas.

Mas acredito que, para ser chamado por alguém para algo, você precisa ser relevante. Ser a parte que falta para que tudo dê certo. Quando você tem algo que ninguém tem, você é relevante para um propósito. E valioso. Sempre vão querer saber sua opinião. Mas hoje, toda empresa de qualquer ramo é capaz de criar, produzir, programar mídia, filmar e postar. Comunicar-se, enfim. Então, qual a relevância das agências hoje? Talvez fazer tudo isso. Só que muito bem feito. Tão intensamente bem feito que seja possível sentir isso. Sim, sentimentos, impressões, amor e simpatia são difíceis de serem planilhados, mas fundamentais na comunicação. É o que fica a longo prazo na verdade.

Talvez o que precisamos para sermos relevantes e a parte que falta para os clientes é fazer estratégias, filmagens, criações com tanta qualidade e profundidade estratégica que saltem aos olhos, corações e mentes. E a palavra que resume essa parte que falta entre as agências e clientes é o craft. Craft é uma palavra ardilosa que significa ofício bem feito. Execução com excelência. A palavra é inglesa, mas a gente aportuguesa ela em um parágrafo. Pronto. Tá criado o verbo craftar e o adjetivo craftado. Craftar é ser alfaiate de marca, marceneiro de estratégia. Com horas e horas de prática, técnica e talento. É uma maneira de ver a vida e os negócios. É adicionar arte nos negócios. E negócios onde só existe arte. Aleluia foi feita por Handel para pagar dívida de jogo. Handel craftou a canção. Colocou tudo o que podia e magicamente Aleluia virou Aleluia. O tempo dedicado a uma função, a uma marca, a encontrar as soluções dos problemas de mercado ainda é artesanal e deve ser bem remunerado, pois resulta do acumulativo de várias experiências que o tornam valioso.

Craftar uma estratégia é descobrir aquele elo ínfimo, que quase ninguém percebeu, entre o íntimo das pessoas e a razão da marca: originalidade. Craftar o social é buscar conversas relevantes, sinceras e que expressem a marca. E, claro, ou suficientemente grandes com uma certa dose de risco calculado ou maravilhosamente bem produzidas que valha a pena ser passada adiante nas redes de relacionamento. Publicidade de longo prazo sempre foi mais para o craft do que para a quantidade. Quantidade acaba levando para preço. Em briga de preço ninguém ganha. Uma vida craftada é desligar o celular para ouvir o filho, a mulher, o cliente ou o funcionário.

“Craftar um dia” é focar intensamente em poucos objetivos, talvez em apenas um, e trazer para esse momento todo o valor que pode gerar com todas suas forças e talento. Mas para isso é importante ter uma vontade gigante de querer ajudar o cliente. Independentemente de qualquer motivação que não seja a vontade de resolver aquela situação: criatividade. O craft pode transformar um job num trabalho perene. Uma conversa de colaboração ou troca de ideias em cliente. Uma interação numa ajuda sincera, numa parceria. Craftação implica humildade em entender, prestar atenção e aprender coisas novas. Por isso é rara. Craftar-se assim é um exercício. Agora imagine craftar uma agência inteira. E o segredo é fazer isso como se fosse simples. Como se fosse fácil. Agradável. Como se fosse natural. Então, precisa ser natural. Parte de você que vai completar a parte que falta de alguma empresa. A resposta em suma: crafte-se. Clientes que sentem falta dessa parte vão acabar achando você.

Flavio Waiteman é CCO – Fundador da Tech and Soul (flavio.waiteman@techandsoul.com.br)