É preocupante ver movimentos contrários à onda positiva do ESG, como a destacada por este veículo na edição passada com a matéria de capa, sobre o capitalismo woke.
Sim, o mundo está cheio de negacionistas e haters, contrários a um movimento progressista e inclusivo que veio para ficar.
Haja vista o crescimento da representatividade dos movimentos de ultradireita em todo o mundo, inclusive em países reconhecidos pelo seu perfil outrora liberal nos costumes e inclusivo.
Precisamos lidar com essa polarização, mas não devemos nos deixar levar por posições nitidamente reacionárias e rancorosas.
Assim como temos atitudes de empresas como o McDonald’s (citado na matéria na semana passada) retroagindo no posicionamento explícito em relação aos princípios ESG, fazendo-o mais contido, cedendo à pressão de consumidores mais exaltados, que ameaçavam cancelar a rede de lanchonetes, temos outras empresas que continuam fiéis à postura de alinhamento total ao movimento de proteção ambiental, responsabilidade social e corporativa.
Como a Starbucks brasileira, por exemplo, que tornou suas lojas verdadeiros “cartórios” para ajudar pessoas trans a mudar de nome, o que desagradou intolerantes preconceituosos. Atitude vencedora de Grand Prix no Cannes Lions de 2021.
Estamos discutindo a aplicação de melhores práticas, sob o acrônimo ESG, ou não. Até porque essas três letras não representam um mundo paralelo, o tal mundo ESG, mas, isso sim, um modo de administração mais respeitoso, inclusivo e ético.
Afinal, não é isso que todos nós queremos? Respeitar e proteger o meio ambiente não deveria ser uma missão de todos? Principalmente agora que estamos sentindo na pele os efeitos do aquecimento global, com temperaturas recordes no Hemisfério Norte e desastres climáticos sem precedentes?
E o lado social... Vamos conviver passivamente com o imenso abismo social existente no mundo?! Vamos aceitar de braços cruzados que existam mais de 700 milhões de pessoas passando fome no mundo, 33 milhões só no Brasil?!
Vamos desistir da luta contra o preconceito de qualquer ordem? Vamos aumentar a intolerância ao movimento LGBT+ ou de outros grupos minorizados?
No campo da governança, vamos continuar batalhando pela ética e pela transparência, apontando desvios de conduta de empresas displicentes com seus colaboradores e prestadores de serviço ou leoninas com stakeholders?
Ou vamos privilegiar o lucro a qualquer preço, mesmo que seja achacando fornecedores e pagando salários abusivos a funcionários?
Enfim, o que está em questão não é dar maior ou menor atenção aos princípios ESG, mas deixar de lado práticas que, sabidamente, são mais justas e respeitosas em todos os campos.
A pergunta que cabe é: de que lado você quer estar? Do lado do respeito ao meio ambiente, da responsabilidade social e corporativa ou do lado da insensibilidade, do desrespeito, da injustiça?
Do lado do capitalismo selvagem ou do capitalismo consciente? Do vale tudo para lucrar ou do lucro ético e responsável? Da atenção e aderência aos 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) ou do egoísmo do “farinha pouca, meu pirão primeiro”? Do privilégio de poucos ou da igualdade de oportunidades para todos?
É sobre isso que estamos tratando. É de escolher o seu lugar nesse mundo polarizado. Aos empresários, será preciso exercitar firmeza de caráter e coragem para trilhar o caminho ESG, mesmo que desagrade os do outro lado, mesmo perdendo clientes intolerantes.
E aos clientes conscientes, cabe pressionar os empresários para que respeitem as melhores práticas. Escolha o seu caminho e siga em frente, mesmo que encontre haters pelo caminho. Retroceder jamais!
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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