Eu sei que este veículo é especializado e focado em comunicação e marketing. Mas sei também que um profissional de marketing deve ser profundo conhecedor da situação existente no mercado onde atua e, principalmente, conhecer e exercitar empatia entre seus consumidores e prospects.

E sei ainda que você, leitora/leitor, é, antes de tudo, um ser humano e, como tal, se sensibiliza com os problemas da sociedade.

Com base nisso tudo, me deparei com dois artigos publicados em jornal de grande circulação na semana passada, que me inspiraram a escrever este texto sobre um tema que vem atraindo minha atenção e até me angustiando há algum tempo. Refiro-me à desigualdade.

A desigualdade social que só faz crescer no mundo e no Brasil. Já há empresas com valor de mercado na ordem de trilhão de dólares e pessoas muito ricas que também, individualmente, estão chegando a uma acumulação de riqueza no mesmo patamar.

Em reais, alguns desses super-ricos já superam a marca de trilionários. Por exemplo, Bernard Arnault, dono da LVMH, o mais rico de todos, com US$ 207,8 bilhões, e Elon Musk, dono da Tesla, com US$ 204,5 bilhões (ambos superando 1 trilhão de reais na cotação de hoje).

Do outro lado da balança, temos mais de 700 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza no mundo, com renda diária inferior a US$ 2,15 (míseros R$ 10,60).

Reconheçamos que o capitalismo é o melhor sistema de geração de riqueza e movimentação econômica.

O problema é o crescimento desmedido da acumulação de riqueza em cada vez menos mãos.

A própria lógica do crescimento contínuo – que cria até novas funções nas empresas: CGO – chief growth officer –, tão própria do capitalismo, deve ser objeto de uma reflexão.

Que crescimento contínuo é esse que não gera riqueza distribuída, que fica restrito a poucos? Será que não está na hora de pensar em crescimento de outros valores que não o lucro?

Que tal pensar em crescimento da qualidade de vida dos empregados? Que tal pensar em diminuição da relação maior X menor salário nas empresas? A propósito, a diferença entre o maior salário e o menor, no Brasil, é de (pasme!) 1.714 vezes.

Quer outros números angustiantes? 33 milhões de brasileiros passam fome; 125 milhões sofrem de algum tipo de insegurança alimentar; mais de ¼ dos brasileiros são considerados analfabetos funcionais (sabem ler, mas não compreendem o sentido daquilo que leem); 35 milhões não têm acesso a água tratada; 100 milhões sem coleta de esgoto; 1.332 milhões de moradias (4,4 milhões de pessoas) sem banheiro de uso exclusivo no domicílio (levantamento do Trata Brasil e do CEBDS).

O Brasil é o 2º em desigualdade no G-20. A metade mais pobre do Brasil detém apenas 1% da riqueza do país, enquanto 1% dos ricos concentra metade da fortuna patrimonial brasileira.

Portanto, meu caro leitor/leitora, só o fato de você ler (e entender) este artigo; ter dinheiro para assinar este jornal; ter, pelo menos, um banheiro privativo na sua casa; ter acesso a água encanada e fazer, pelo menos, 3 boas refeições por dia; já fazem de você um dos privilegiados no Brasil.

Mas saiba que você é minoria. OK, desfrute, mas não deixe de praticar empatia. Nos intramuros de condomínios e atrás da blindagem de carros protegidos, não podemos ignorar uma realidade lá fora, que é gritante e deve mobilizar a todos.

Os governantes devem pensar mais em FIB (Felicidade Interna Bruta) do que em PIB.

Nenhum crescimento da riqueza bruta de um país deve ser comemorado se não vier acompanhado de melhoria efetiva de vida dos seus moradores.

Nenhum crescimento do lucro das nossas empresas deve acontecer sem a devida melhora de cada um dos funcionários. Reduzir a desigualdade é dever de todos nós.

(Agradeço Jorge Okubaro e Luciana Pretto que, com seus artigos, me inspiraram neste texto).

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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