O modelo publicitário atual precisa mudar e excluir os seculares abismos
sociais que ainda carrega, abrindo espaço para diversidade, equidade e inclusão (DE&I), retratando nossa sociedade plural e trazendo representatividade aos consumidores.

O consumidor não aceita mais ver certos tipos de preconceitos que estão enraizados em nossos costumes. E não se trata somente do racismo, ou de estereotipar alguém da comunidade LGBTQIA+, as mais comuns.

Quando uma peça publicitária retrata uma mulher 60+ como a imagem de uma senhorinha de cabelos brancos que fica em casa cuidando dos netos e fazendo bolo, por exemplo, exclui uma grande parcela da sociedade de mulheres 60+ economicamente ativas, que trabalham, sustentam seus lares, namoram, viajam, se divertem.

Falar de diversidade é abrir o leque para toda sua amplitude e interseccionalidade, abordando etarismo, condição socioeconômica, regionalismo, raça e PCDs, dentre outros. Não olhar para toda essa diversidade de consumidores que temos é perder oportunidades. Por isso, falar de diversidade é justiça social, mas é também economia, é sobre performar melhor.

Os resultados do Censo Global DE&I de 2021, realizado pela WFA - World Federation of Advertisers, nos mostram que ainda temos muito trabalho a fazer. No momento, um em cada sete profissionais afirma que consideraria deixar sua empresa e o setor onde trabalha pela falta de diversidade e inclusão.

A ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) tem Diversidade, Equidade e Inclusão como pautas prioritárias em sua agenda estratégica e, por meio de seu GT de DE&I - Diversidade, Equidade e Inclusão, liderado por mim, e do Comitê de Comunicação & ESG, presidido por Fabíola Duarte, head of communication da L’Oréal, trouxe para o mercado brasileiro, em uma tradução livre de sua versão original, elaborada pela WFA, a Carta Global DE&I para Mudança.

O documento é um chamado aos líderes de marketing e suas agências parceiras para construir uma indústria de verdadeira inclusão, que meça suas realizações e seja autocrítica quando ficar aquém.

A partir dos aprendizados que obtivemos no Censo Global, realizado em 27 países ao redor do mundo, tão diversos quanto Japão, África do Sul, Malásia e Brasil, recomendamos fortemente que as organizações sigam como requisitos mínimos: criar uma equipe de liderança diversificada; entender e democratizar os dados da empresa; criar políticas transparentes e publicá-las; e criar segurança e apoio psicológico.

A diversidade é propulsora da inovação. Mas se as companhias não tiverem espaços genuinamente seguros que permitam que os funcionários falem abertamente, a inclusão não ocorrerá. Fornecer treinamento e suporte contínuo para o gerenciamento da diversidade e a administração de equipes inclusivas é fundamental.

O objetivo deste guia é compartilhar boas práticas e ajudar os profissionais do mercado publicitário e as marcas a trabalharem melhor a diversidade, equidade e inclusão como parte da cultura organizacional e, assim, refletir na publicidade.

Mais uma vez, reforçamos na ABA que DE&I precisa ser parte da estratégia de negócio e a publicidade precisa assumir a responsabilidade de promovê-la, bem como ajudar a quebrar estereótipos, tornando visível o que foi invisibilizado ao longo de muitos anos.

Usar o marketing como uma força propulsora para promover mudanças positivas é o caminho do futuro e esperamos que nossas iniciativas contribuam para essa evolução do ecossistema publicitário.

Claudia Neufeld é diretora da ABA, Líder do GT de DE&I - Diversidade, Equidade e Inclusão, e vice-presidente de marketing da The Walt Disney Company