Foi durante a Revolução Industrial que o capitalismo se firmou como um sistema econômico eficaz, baseado na propriedade privada dos meios de produção e operação com fins lucrativos. As características deste sistema incluem, além da propriedade privada, a acumulação de capital, o trabalho assalariado, a troca voluntária, um sistema de preços e mercados competitivos.

Com o tempo, porém, seus efeitos perversos, baseados na geração de lucro para poucos, a qualquer custo, pavimentaram o caminho para o movimento que culmina hoje no acrônimo ESG.

O tal capitalismo selvagem, do lucro e da acumulação de riqueza à custa de uso de recursos e de pessoas de forma muitas vezes desrespeitosa, foi dando lugar a um capitalismo consciente, que visa ao lucro, mas considera as pessoas e o planeta. Mas essa transição não aconteceu assim, de repente. Tampouco foi espontânea, decorrente da consciência e do altruísmo dos detentores do capital e da produção.

O processo foi lento e dependente de líderes voluntariosos. Podemos dizer que começou em 1948, quando Eleanor Roosevelt, primeira-dama dos EUA, líder da Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos, encampou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi aprovada na Assembleia Geral da ONU.

Somente em 1987 surge outro movimento importante no campo das causas ambientais e sociais, esse liderado também por uma mulher, a primeira-ministra da Noruega, Gro Brundtland. Enquanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos focava mais o bem-estar das pessoas, o documento conhecido como Relatório Brundtland – Our common future alertava para os riscos do abuso do homem na sua relação com o planeta.

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento já deixava claros na publicação os riscos do aquecimento global, das chuvas ácidas e da destruição da camada de ozônio, mas também alertava para os contrastes da pobreza do Terceiro Mundo com o consumo desenfreado dos países ricos.

No mesmo ano de 1987, John Elkington fundava a SustainAbility, que é uma referência importante até hoje. Elkington foi o criador do conceito Triple Bottom Line – Profit, People, Planet. Bottom line é a forma, em inglês, que o mundo dos negócios costuma definir o resumo de uma demonstração de resultado de uma empresa. É a última linha, que mostra se a empresa teve lucro ou prejuízo.

O que Elkington levantou foi a necessidade de as empresas levarem em conta não só o resultado financeiro, mas também as realizações em benefício das pessoas e do planeta. Daí o triple bottom line. Lucro, Pessoas e Planeta: estes eram os três pontos a serem considerados.

Era o conceito ESG começando a ser desenhado. Na linha do tempo, é preciso destacar o surgimento do termo Capitalismo Consciente, em 2003, cunhado por Raj Sisodia e John Mackey, este último fundador da Wholefoods (adquirida depois por Jeff Bezos), por meio do livro Concious Capitalism.

Era mais um tijolo na construção do conceito de valorização do benefício para as pessoas e o planeta, em paralelo ao lucro das empresas. Mas foi no fim de 2004 que o termo ESG apareceu na forma com que é conhecido atualmente.

Foi num trabalho coletivo, estimulado por Kofi Annan, então secretário-geral da ONU, que convocou o mercado financeiro para repensar as bases da atuação das empresas, focando o bem geral da sociedade e não só no lucro dos seus acionistas.

Participaram do estudo 20 instituições financeiras de nove países, entre elas o Banco do Brasil. No final, foi gerado um estudo bastante consistente, sob título The Global Compact – Who Cares Wins. De lá para cá, tanto o lado ambiental como o social ganharam cores mais fortes, com o aquecimento global causando desastres ambientais, e com a busca por menor desigualdade, mais diversidade e inclusão ganhando tração.

Foi uma longa jornada de consciência até aqui. E muito ainda está por vir para criarmos um mundo mais justo, respeitoso e menos desigual.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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