Nesse dia 1º de julho a DPZ faz 55 anos. Éramos quatro jovens num país em recessão profunda, lutando contra a inflação provocada pela construção de Brasília. O Brasil vivia, na ocasião, o que a Argentina está vivendo hoje.

Não éramos uma agência, mas um estúdio cheio de problemas. Eu, de minha parte, era o gerente da Standard em São Paulo, fazendo algo que não gostava de fazer: passar o tempo todo ligando para os clientes, para que pagassem as contas, além de atender telefonemas dos veículos pedindo que a agência liquidasse seus débitos.

Meu consolo eram os free-lancers de redação, que fazia incessantemente. Entre meus clientes pós-expediente estava o pequeno estúdio da Metro3, onde eu redigia para os poucos clientes que o estúdio tinha, e fazia o roteiro de uma história em quadrinhos cuja personagem galáctica, Virgínia Zipf, deve ter sido uma das primeiras heroínas eróticas na história dos quadrinhos.

Eu já havia trabalhado com o Zaragoza na Thompson e com o Petit na McCann - éramos amigos.

A Metro3 havia feito uma campanha para o lançamento do Galaxy, que fora veiculado pela Thompson. O gerente de propaganda da Ford era o Edeson Coelho, famoso por ter criado o slogan “Faça como a Ford, compre Willys”. Edeson prometera ao Petit e ao Zara que, se eles transformassem a Metro3 em agência, tiraria a conta da Thompson e entregaria à Metro3, coisa que não se realizou porque o Renato Castelo Branco moveu céus e terras para evitar a perda, inclusive tentando comprar a Metro3, vindo pessoalmente visitar o estúdio na Alameda Casa Branca. Tenho grande admiração pelo Castelo Branco.

Os catalães haviam brigado com o gerente da Metro3, um consultor político importante da época, e procuravam alguém que o substituísse. O Zaragoza pediu pessoalmente a mim que indicasse alguém. Depois da terceira indicação rejeitada, o Zara disse ao Petit: “O Duailibi está procurando alguém para trabalhar conosco, mas ele é que eu gostaria que fosse essa pessoa”. Eu imediatamente rejeitei, porque, apesar da crise econômica no país, a Standard me pagava o maior salário da propaganda brasileira.

Conversando com a minha mulher, Sylvia, ela disse que havia acumulado economias que nos permitiriam viver dois anos sem salário. Eu devia aceitar a proposta, até para tentar algo novo.

Assim, a DPZ nasceu de três fontes: em primeiro lugar a promessa que não pôde se cumprir do Edeson Coelho, depois a intuição do Zaragoza e terceiro a administração financeira da Sylvia.

Só tínhamos um cliente regular, o Hotel Ferrareto do Guarujá, que pagava suas contas com grande dificuldade. Mas eu já estava dando aulas na Escola de Propaganda, criei um portfólio com trabalhos anteriores do Petit, do Zara e do Ronaldo Persichetti (o maior talento em artes gráficas que conheci), fiz uma lista dos clientes que precisávamos e visitava diariamente algum deles. E fazia muita palestra, onde quer que me convidassem.

Fiz uma grande bobagem, que acabou resultando em vantagem: briguei com o Ferrentini, que, com aquele temperamento italiano, todo domingo escrevia alguma coisa contra mim. Eu sofria muito, a ponto de minha mulher proibir a entrada do Diário Popular aos domingos em nossa casa.

Outro fato crucial foi uma licitação em Brasília, que foi vencida por uma agência amiga dos poderosos da época. Fiquei tão indignado que, nesse mesmo dia, à noite, fazendo uma palestra no Rio, surgiu espontaneamente a filosofia da DPZ: os 4 Compromissos — com a verdade, com a originalidade, com o bom gosto e com a moral nos negócios.

Esses compromissos nos guiaram pelo resto da vida, porque, em sua simplicidade ou quase inocência, resumiam o que todos esperavam de uma agência de propaganda.

Numa das palestras, na ADVB, em 1972, estavam o Alex Thielle e o Francisco Madia, do Itaú, que fazia na ocasião uma campanha com o Tio Patinhas. Esse foi nosso primeiro grande cliente, embora durante esses três anos conseguíamos trabalho para pagar as despesas.

Como será a DPZ nos próximos 55 anos, em 2078? Como serão todas as agências, as startups, os estúdios, a mídia? Existirá ainda a propaganda como a conhecemos hoje?

Foram 55 anos incríveis, e considero um privilégio estar vivo nesta época e testemunhar o desenvolvimento dos computadores (eu que comecei com um Sinclair de teclas de borracha), dos foguetes espaciais, dos satélites, do wi-fi, do bluetooth, das viagens quase supersônicas, dos efeitos especiais, da passagem de uma sociedade rural para uma urbana, das mudanças políticas, econômicas e morais, da telefonia celular, da convivência com tantas pessoas enriquecedoras e profundamente interessantes. Como o Flávio Conti, um talento no atendimento, o Fernando Diniz, gênio do planejamento, o Young, herdeiro da criatividade do Petit e do Zaragoza e tantos, tantos outros e outras que tornaram feliz a nossa vida.

E tudo isso está apenas no começo.

O que vem aí? Tenho certeza que a criatura humana mudará muito também, e uma empresa como a DPZ sobreviverá bem porque tem uma filosofia.

Como será 2078?

Com o incrível desenvolvimento da medicina, talvez até eu esteja vivo.

Roberto Duailibi é publicitário
krix391@gmail.com