Toca o celular e é aquele número que não está na sua agenda. Insiste uma, duas vezes. Por um daqueles pensamentos humanistas, que ainda vai me levar a ter problemas, eu penso: pode ser uma emergência, pode ser alguém em apuros. Atendo. E logo depois entendo: é golpe. Geralmente de alguém simulando uma operadora de telefonia, ou mesmo de uma empresa de telefonia desesperada para conseguir clientes, depois de desmobilizar a publicidade de imagem de marca que todo mundo via em favor da publicidade invisível, que ninguém vê, mas é mensurável.

O e-mail que cai na caixa de spam é golpe. A história da fortuna que me espera num banco suíço, idem.

O site falso do Detran, quando digitei IPVA no Google e que aparece com o logo do Detran com o lugar para colocar o código Renavam, que identifica o veiculo, e que mostra um código de barras que eu estava prestes a pagar, é golpe também. Deu tempo de entender que o beneficiado seria um aldrabão e não o governo. E daí você olha de novo o logo repleto de falhas e nota que nada ali é real. Só seria real o prejuízo, se fizesse o depósito. Real também é o lucro de quem permitiu que qualquer malandro possa comprar mídia. Bem, mas essa é outra história de que tudo virou mídia.

Aquele anúncio de emprego nas redes sociais de algumas das melhores agências do país, inclusive a T&S, cobrando uma taxa de inscrição para os candidatos, é golpe. Assim como é golpe também a substituição da máquina de pagamentos de um famoso bar. Alguém trocou a máquina e milhares de reais em contas pagas foram parar na conta de alguém.

Aquele link irrecusável no WhatsApp é golpe. Aquela mensagem via e-mail da empresa do seu plano de saúde, que te ajuda a lembrar da conta do mês enviando um código de barras atualizado, pode ser golpe. Daí depende. Assim como é golpe também a ligação do banco dizendo que o seu cartão foi clonado e você vai receber outro em casa, bastando colocar seu cartão antigo e a senha numa maquininha. São milhares de golpes, muito criativos e todos eles possuem uma única porta de entrada. O celular. Seja por ligação, mensagem ou notificação. Em alguns desses eu caí. Em outros, amigos meus caíram e ficaram muito frustrados por terem sucumbido à esperteza alheia, mesmo sendo grandes inteligências em suas áreas. A tecnologia nos mostra a vulnerabilidade humana.

A empatia nos fragiliza: “não vou ser mal educado com essa atendente que está me ligando para me ajudar”. E mesmo distrações bobas nos tornam Gnus atravessando um rio de crocodilos famintos. E porque cair num golpe é muito humilhante, tenho refletido sobre a qualidade das conexões. De cada 300 abordagens que recebemos todos os dias pelo celular, ao menos 4 ou 5 são conexões fortes. Conexões que realmente importam e relevantes para o dia, o trabalho e a vida. O restante é distração, perda de tempo e amplia a vulnerabilidade para todo tipo de golpe.

Na era da superconectividade precisamos de mais qualidade. Curadoria. Silêncio. Restrição de acessos. Exclusividade. Acredito que a próxima busca global será por conexões fortes. Diretas. Essas ligações fortes podem se dar a partir dos velhos e bons apps de empresas. Não pago mais nenhuma conta se não houver um app confiável. Mesmo porque a Apple não permite que clones de apps ou apps fantasmas subam para sua store.  Num mundo fake e repleto de golpes, a autenticidade e canal exclusivo dos apps ajuda.

O celular que nos abre as portas do mundo tem deixado entrar muita coisa ruim em nossas vidas. Alias, conexões fortes são humanamente valorizadas após períodos difíceis e estamos passando por um aumento de violência real e digital. Afinal, amigos de verdade e pessoas que se importam com você são poucas e dá pra contar nos dedos. O que é importante, é mesmo escasso.

Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech & Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br