Séries que relatam os golden years da publicidade, como Mad Men, retratam o famoso “clube do bolinha” em que mulheres não eram bem-vindas, além de ilustrar o quão difícil era conquistar o seu lugar ao sol criativo para aquelas que o quisessem.

Sim, a área de criação das agências sempre foi vista como um ambiente masculino. Nossa construção social acabou moldando essa desigualdade, que por muito tempo não incomodou, mas que agora começa a mostrar sua relevância e necessidade em ser amplamente discutida – e mudada.

A presença de mais homens do que mulheres na área de criação das agências – e em várias outras áreas também – teve e ainda tem reflexos na publicidade.

Por anos, a ótica e o ponto de vista da mulher foram ignorados e deixados de lado e, com isso, vivenciamos anúncios e campanhas sexistas que eram resultado não só da falta de empatia do mercado, mas resultado da falta de mulheres nos bastidores, criando.

Ninguém melhor que uma mulher pra falar de absorventes em um brainstorming, certo? Mas porque não nos consideram ideais quando o job é sobre cerveja ou o lançamento de um carro esportivo, por exemplo?

Particularmente, posso dizer que estou fora da realidade. Trabalho ao lado de mulheres incríveis e, juntas, somos 40% do departamento de criação, mas essa porcentagem não reflete a realidade do mercado criativo.

Hoje, apenas 25% do total de criativos em agências são mulheres. Em cargos de liderança, este número é ainda menor: aproximadamente 10%.

Gosto muito de reforçar que estes dados são médias do mercado. Assim como eu tenho o privilégio de trabalhar numa equipe diversificada, há mulheres que, ao contrário de mim, são as únicas em seus departamentos.

Ainda na faculdade, quando optei em seguir na área de criação, percebi que era parte da estatística. Fui uma das poucas – senão a única da minha turma – que escolheu ser Diretora de Arte. Ao entrar na primeira agência que trabalhei, também confrontei os números: éramos 4 ou 5 mulheres para os 20 e tantos homens do departamento.

Felizmente, tanto na antiga agência como em várias outras, esses números têm aumentado aos poucos com o passar dos anos. Estamos começando a desmistificar a área criativa como um reduto masculino, abrindo espaço para mulheres criativas que estão prontas para mostrar o seu trabalho, suas ideias e seu valor, e deixar claro que há lugar para todas. 

O departamento tido como o mais descolado da agência ainda é também o mais desigual. Aquele que deveria estar na frente das tendências e antecipar movimentos decepciona quando o assunto é igualdade de gênero.

A diversidade e o pluralismo do ser humano já são uma realidade. Não dá mais pra fechar os olhos e seguir fazendo o que há 10 anos fazia sentido. Não cabe mais a ótica de um só ponto de vista. É preciso incluir tudo e todos, considerar as opiniões diferentes e, assim, chegar em algo realmente verdadeiro. Não quero ser UMA exceção à regra.

Por Julia Arenzano, Diretora de Arte na Global Shopper