Os resultados da pesquisa anual ‘Sustentar para ganhar’ (‘Sustain to Gain’) 2023, da Kantar, revelam a volta do crescimento dos chamados eco-actives.

São aqueles consumidores mais engajados, que evitam a compra de produtos em embalagens inadequadas (com excesso de plástico descartável, por exemplo) ou aqueles produzidos por empresas não alinhadas com os princípios de sustentabilidade.

Depois de uma queda em 2022, os tais eco-actives voltaram a ter maior representatividade na pesquisa, alcançando uma participação de 18% na América Latina e 22% globalmente.

Não confundir com os outrora chamados de ecochatos. Ao contrário, eles são os mais conscientes, que simplesmente ignoram as empresas e seus produtos desalinhados das práticas sustentáveis.

Já os eco-considerers – aqueles que têm consciência ambiental e atribuem um certo valor aos produtos alinhados aos princípios de sustentabilidade, mas não a ponto de influenciarem sua compra – representam, na mesma pesquisa, 37% na América Latina e 38% globalmente.

Mas a maioria dos participantes do estudo ainda é formada pelos chamados eco-dismissers, que representam 45% na América Latina e 40% no mundo. São aqueles que ainda não se importam muito com as iniciativas ambientais na hora da escolha de produtos.

A pesquisa contou com 15.000 respondentes na América Latina (3.500 no Brasil) e 112.000 no mundo.

Ao analisar os resultados, podemos ter a visão do copo meio cheio ou meio vazio. Os do copo meio vazio dirão: vamos nos preocupar com a maioria e dar menos atenção aos tais eco-actives.

Já os que preferem analisar o filme – e não o retrato atual – vão ver uma tendência inequívoca de crescimento dos chamados eco-conscious, que levarão cada vez mais em conta a atitude das empresas na hora de escolher suas compras.
Se somarmos os actives e os considerers já teremos uma maioria: 55% na América Latina. E, se nos aprofundarmos no estudo, veremos que a tendência é de crescimento entre os mais conscientes nos próximos anos.

Ou seja: uma visão imediatista coloca as empresas menos alinhadas às melhores práticas ambientais numa posição confortável agora, mas isso não durará muito tempo.

Até porque os fenômenos climáticos extremos impactam cada vez mais, provocando desastres ambientais que incomodam até os mais descrentes do aquecimento global e pouco sensíveis à poluição do ar, dos rios e mares.

Quem pode ficar indiferente às temperaturas recordes observadas no mundo nos últimos meses? Quem pode negar a poluição nos oceanos, que, a continuar o ritmo de descarte atual, teremos mais plástico do que peixes nos mares, em 2050?

É de se esperar um aumento expressivo da influência das iniciativas sustentáveis das empresas, fazendo seus produtos ganharem a preferência dos consumidores.

Essa perspectiva deverá exercer uma pressão nas empresas ainda indiferentes aos princípios da sustentabilidade.

Até porque, na hora de atrair talentos, os jovens profissionais – os tais millennials – se posicionam entre os mais engajados e levarão em conta a atitude da empresa antes de aceitar uma oferta de emprego.

O não alinhamento a melhores práticas ambientais, portanto, está se tornando um risco às empresas não engajadas. Algumas devem estar adiando a adesão às melhores práticas em função de possíveis custos adicionais.

Mas o risco de serem preteridas, não só por consumidores, mas também pelos profissionais mais conscientes, deverá provocar uma mobilização significativa nos próximos anos.

O que esperamos é que, seja por consciência ou por receio de perder competitividade, as empresas passem a adotar práticas coerentes com uma sociedade mais preocupada com o seu futuro. E que tenhamos cada vez mais consumidores eco-conscious pressionando!

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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