Antes de mais nada, quero dar o devido crédito a Fabio Alperowitch, da Fama Investimentos, que me inspirou neste texto, com o seu oportuno artigo ‘Sociobioeconomia: o modelo que transforma biodiversidade em riqueza sustentável’.

Tenho me repetido aqui, afirmando e reafirmando o potencial da economia verde para o Brasil. Alperowitch faz isso como poucos, com seus artigos inspiradores. E eu dou eco.

Já escrevi aqui que adoraria que Alckmin e Marina Silva dessem match. Ou seja: os ministérios de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e o de Meio Ambiente e Mudança do Clima de mãos dadas, provocando um desenvolvimento pujante e sustentável no nosso país.

Na verdade, outros ministérios deveriam estar alinhados a esse objetivo. Em última instância, o planejamento estratégico do Brasil deveria estar totalmente amparado nessa união de desenvolvimento com ecologia.

É aí que nos diferenciamos, como país, e apresentamos um potencial inigualável. No seu artigo, Fabio dá exemplos de iniciativas bem-sucedidas no campo da sociobioeconomia. Como a cadeia do açaí que, antes restrita a economias locais, movimentava cerca de US$ 50 milhões anuais há duas décadas.

Hoje, esse valor chega a US$ 1,2 bilhão por ano na Amazônia e a US$ 15 bilhões globalmente. Em um curto espaço de tempo, a valorização de um produto da sociobiodiversidade multiplicou seu impacto econômico, provando que negócios sustentáveis podem escalar e ser altamente lucrativos.

A Natura é outro exemplo claro desse modelo: suas linhas de cosméticos baseadas em ativos da biodiversidade amazônica — como ucuúba, andiroba e açaí — foram desenvolvidas em parceria com comunidades locais, gerando benefícios mútuos.

Um estudo recente apontou que, em municípios onde a empresa atua na Amazônia, foram preservados até 1,8 milhão de hectares de floresta, evitando sua conversão para monoculturas e retendo cerca de 58 milhões de toneladas de carbono.

A conservação ambiental foi internalizada na lógica de negócios, criando valor tanto para as comunidades quanto para consumidores dispostos a pagar por produtos sustentáveis.

Empresas que adotam esse modelo, além do retorno financeiro, também fortalecem sua reputação, reduzem riscos ambientais e regulatórios e acessam mercados premium cada vez mais exigentes.

A cooperativa CAMTA, em Tomé-Açu, Pará, desenvolveu sistemas agroflorestais diversificados que combinam culturas perenes, frutas e outros produtos nativos.

Com esse modelo, consegue obter rentabilidade de cerca de US$ 1.000 por hectare ao ano, enquanto a pecuária extensiva na mesma região gera apenas US$ 100 por hectare.

Esse contraste revela um dado incontestável: ao imitar a diversidade da floresta, a produção agroflorestal multiplica em dez vezes o rendimento de modelos baseados no desmatamento, permitindo prosperidade econômica sem devastação ambiental.

Retirei estes exemplos diretamente do artigo de Alperowitch. Há muitos outros por aí... O que é irritante é a falta de foco do nosso governo, que insiste em apostar em modelos econômicos ultrapassados, deixando de lado esse imenso potencial da economia verde.

O título deste artigo foi pensado exatamente no eco que deve haver em mensagens que enfatizam o lado eco, de ecológico, da economia. Perdoe-me o abuso do prefixo eco, mas é ideia fixa mesmo.

Desenvolvimento social consistente e sustentável se faz com foco em negócios com pegada socioecológica, principalmente no Brasil, onde temos condições privilegiadas para isso.

A bioeconomia foi destaque no SXSW deste ano, como algo a ser explorado, assim como a humanização de processos, apostando na simbiose da IA com discernimento e sensibilidade humanos.

Precisamos dar eco a esse conceito e às iniciativas coerentes com os princípios da tal sociobioeconomia.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br