Nos últimos anos, o conceito de ESG ganhou notoriedade global. Mobilizou conselhos de administração, ocupou capa de relatórios financeiros e foi motor de discursos institucionais.
Muitas empresas correram para “parecer ESG” antes de realmente “ser ESG”. Passado o momento hype, os princípios ESG entraram definitivamente na pauta mais séria e consistente das empresas conscientes.
Para essas, não se trata mais de reagir às demandas de clientes ou acompanhar a tendência para não ficar de fora. Não é mais sobre fugir do risco de negócios por não ter uma política clara sobre ESG, mas de incorporar seus princípios à administração, de forma natural e definitiva.
É verdade que há muitas empresas ainda alienadas do ESG. Fico surpreso quando, em rodinhas menos antenadas, ainda me perguntam o que é esse tal de ESG.
Mas, nas empresas mais sofisticadas, principalmente nas multinacionais, o tema já se tornou parte da estratégia, se incorporando naturalmente aos planos e ações.
Chamo esse momento de ESG 2.0 — uma fase de maior maturidade, consistência e integração. O ESG 2.0 marca a transição do encantamento para o engajamento. Na primeira onda, vimos empresas adotando práticas ESG para atender à pressão de investidores, clientes e da opinião pública.
Havia confusão, modismos e, em muitos casos, greenwashing. Agora, as organizações que compreendem profundamente os riscos e as oportunidades associados às questões ESG estão indo além da superfície.
Nesse novo estágio, ESG deixa de ser um projeto isolado e passa a orientar decisões de negócios, modelos de operação, cultura organizacional e gestão de riscos. O que antes era periférico, agora é central.
Não se trata mais de escolher entre performance financeira e responsabilidade socioambiental — trata-se de entender que não haverá performance duradoura sem sustentabilidade sistêmica.
A maturidade ESG se constrói a partir de cinco caminhos interdependentes:
1- Governança comprometida: A alta liderança incorpora o ESG como tema estratégico e assume responsabilidade por resultados, integrando-o aos indicadores-chave da empresa; 2- Materialidade realista e transparente: A organização foca nos temas ESG que mais impactam seu setor, territórios e stakeholders — com clareza, não com generalidades;
3- Gestão baseada em dados: ESG 2.0 exige mensuração, metas, auditoria e prestação de contas — como qualquer outro aspecto do negócio; 4- Engajamento de stakeholders: O relacionamento com clientes, fornecedores, comunidades e colaboradores se torna mais transparente, participativo e corresponsável; 5- Inovação regenerativa: Empresas maduras em ESG vão além de mitigar danos: elas criam soluções que regeneram ecossistemas sociais e ambientais.
E para quem ainda não se engajou? A boa notícia é que nunca é tarde para começar — desde que seja com intenção real e visão de longo prazo.
Para empresas que ainda estão nos primeiros passos, seguem três orientações essenciais: 1- Entenda seu contexto (faça um diagnóstico): ESG não é receita de bolo. É preciso entender os impactos, riscos e oportunidades do seu setor, porte e local de atuação;
2- Engaje os decisores (promova letramento e convide seus colaboradores a apontar ações cabíveis – Design Thinking); 3- Comece pequeno, mas comece certo (estabeleça objetivos concretos e factíveis).
Escolha ações de alto impacto e baixo custo inicial, mas que representem um caminho consistente: mapeamento de carbono, diversidade no recrutamento, governança ética etc.
Nesta nova fase, não basta parecer ESG. É preciso transformar o negócio a partir de valores reais, métricas sólidas e propósitos compartilhados.
O ESG 2.0 não é só sobre comunicação. É sobre coerência. Não é sobre agradar ao mercado. É sobre criar valor genuíno para todos os stakeholders.
O mundo exige outra postura das empresas. Mais responsabilidade, mais escuta, mais regeneração. ESG 2.0 é o caminho para isso.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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