O recente endurecimento das tarifas comerciais impostas pelo governo dos Estados Unidos ao restante do mundo, com repercussão catastrófica nos mercados internacionais, não é apenas uma medida econômica.
É um gesto simbólico, que revela uma visão egoísta de desenvolvimento, baseada em proteção a qualquer custo, competição agressiva e enfraquecimento da cooperação internacional. Não há um só economista de bom senso que defenda tal medida arbitrária e intempestiva.
Estão todos atônitos e incrédulos com a atitude. Seja qual for a justificativa alegada — preservar empregos, estimular a indústria local ou conter a ascensão de outras potências — a verdade é que esse tipo de atitude reforça um modelo de capitalismo ultrapassado, centrado na dominação e na desconfiança.
Um modelo que gera incerteza, rompe cadeias de valor, prejudica os mais vulneráveis e afasta o mundo de soluções comuns para desafios globais urgentes.
E o momento exigia exatamente o contrário: mais união entre as nações e mais ações colaborativas para fazer frente aos desafios de insegurança global e crises climáticas.
Em um cenário cada vez mais complexo, marcado pelas mudanças climáticas, pela desigualdade crescente e pela polarização política, as respostas não devem ser mais muros, mas, isso sim, mais pontes.
Não mais tarifas, mas o crescimento de trocas conscientes. Não mais competição predatória, mas mais colaboração regenerativa. É nesse contexto que os princípios ESG se apresentam como um antídoto necessário e urgente ao protecionismo tóxico.
Mais do que uma sigla ou uma tendência de mercado, ESG representa um novo contrato de confiança entre empresas, governos e sociedade.
Um pacto ético que entende que o lucro não precisa ser inimigo do impacto positivo — e que o sucesso de um agente econômico depende, necessariamente, da saúde do ecossistema ao seu redor.
Depende de empatia e sensibilidade. O mundo que emerge da crise pandêmica e das guerras econômicas não quer mais lideranças isoladas.
Quer lideranças que saibam ouvir, incluir e respeitar todos os stakeholders: do pequeno fornecedor à comunidade local, do trabalhador à biodiversidade. O capitalismo consciente mostra que é possível gerar riqueza com propósito.
Que empresas podem — e devem — ser protagonistas na construção de um mundo mais justo, mais verde e mais humano. E que empatia, escuta ativa e visão sistêmica não são fraquezas, mas forças competitivas do século 21.
Diante de medidas unilaterais e arbitrárias como as tarifas americanas, o melhor caminho não é responder com mais do mesmo.
Não é erguer novas barreiras, mas ampliar o diálogo. Não é retaliar, mas repensar. Países, empresas e cidadãos precisam se unir em torno de valores compartilhados, construindo uma nova ordem econômica global pautada no respeito, na interdependência e na regeneração.
Nesse movimento, os EUA correm o risco de se isolarem em um mundo que quer, cada vez mais, andar junto.
Um mundo que reconhece que não há prosperidade possível sem inclusão. Nem segurança verdadeira sem equilíbrio ambiental. Nem futuro viável sem responsabilidade compartilhada.
É tempo de mostrar que existe um outro caminho. Que o poder pode andar de mãos dadas com a empatia. Que as decisões estratégicas podem — e devem — considerar o bem-estar coletivo. Que a colaboração internacional não é ingenuidade, mas inteligência.
A resposta ao protecionismo está na cooperação. A resposta à arbitrariedade está na ética. A resposta à crise está no ESG.
Porque, no fim das contas, é essa a verdadeira vantagem competitiva do futuro: cooperar para crescer. Compartilhar para evoluir. Cuidar para prosperar. Respeitar para ser respeitado.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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