Ter uma folha em branco à minha frente nunca me paralisou. Porque escrever para mim nunca foi uma obrigação, um trabalho ou uma necessidade. Escrever sempre foi meu ato de reconhecimento. Desde pequena amei folhas em branco. Ali escrevia meus sonhos, meus sentimentos e meus pensamentos.

Sem forma definida, sem tema e sem apego. Ao longo dos anos, sem nem perceber, fui desenvolvendo meu estilo próprio, a ponto de amigas próximas reconhecerem: isso é texto de Mari e isso não. Estilo que reflete quem sou.

Eu escrevo por fases e não por pedidos. Fases da vida que exigem cada vez mais reflexão. Normalmente, escrevo ainda mais em dias mais emotivos, em que o coração pede mais espaço, que dentro de mim não está cabendo mais nada.

Nesses dias normalmente choro, reflito, pego uma folha em branco e solto. Solto a criatividade, solto o sentimento, apenas solto. Sem medo algum de errar, de ser julgada, de ser vista e exposta.

Escrever me ajudou muito, quando me mudei para São Paulo, a entender como a vida corria mais rápido por aqui e como os dias de conforto estavam prestes a acabar.

A escrita tornou minha gravidez mais divertida, onde os perrengues de uma mulher grávida viraram contos bem-humorados, em que, ao mesmo tempo que eu mudava, eu me reconhecia nas brincadeiras de mim.

Ter uma folha em branco na pandemia me salvou. Salvou minha cabeça, minha ansiedade e minha angústia. Colocar para fora o medo daquele momento me trouxe luz para os próximos capítulos que estavam por vir. E me fez limitar o que eu achava correto e não. Rasguei o verbo, histórias e até pessoas.

A escrita me ajuda diariamente a ser mãe, filha, mulher, profissional e mais um monte de títulos que eu possa carregar. Faz com que eu entenda o que sinto sendo cada uma delas e como sou sendo eu por completo. Em poemas e poesias, desabafo, dou risada e choro por tudo que meus papéis me pedem.

Conheço muita gente que tem medo de página em branco. Trava. “Nem sei escrever” – dizem alguns. E eu sempre digo, encare uma página em branco como um amigo na mesa de um bar.

Fale sem medo, só comece. Não se preocupe com a forma, nem se está correto. Não se preocupe se o lado de lá vai rir, criticar. Apenas conte.

Bote para fora o que está pensando e depois leia. Leia em voz alta. Você vai entender a delícia que é se encontrar em você, no que você tem a dizer a você mesmo.

Ao me deparar com uma página em branco, eu relaxo, eu brinco, eu me divirto, eu penso. Eu penso muito melhor. E digo, na dúvida, escreva. Na angústia, escreva. Na alegria, escreva. Sem medo de se encontrar, de se descobrir.

Escrevo para ler minha história.

Escrevo para desenhar meus próximos capítulos.

Mas não me peça para ter forma, número de caracteres. Eu sou do time “Tema Livre, Tempo Livre”. Por isso, até hoje, já comecei ao menos uns 5 livros diferentes.

Começo e logo me vejo mudando de assunto, mudando de sentimento. A forma não permite a liberdade dos meus pensamentos e palavras. Não é a página que me trava, é o padrão pedido.

Por isso, encontrei um formato, o @podia_ser_livro, uma página de rede social onde eu solto. Solto o que estou sentindo, da maneira como estou sentindo. É um jeito de me expressar, de me apresentar e quem sabe, talvez, de inspirar.

Não tem dia certo de postar, não tem forma certa. O @podia_ser_livro me acompanha, são as minhas páginas que se preencheram com meus sentimentos. Acredito que possa ter ali no meio a tal daquela frase que alguém precise ler para se inspirar.

Inspirar por passar por situações parecidas, ou simplesmente, inspirar quem ainda trava diante de si e de uma folha em branco.

Mari Pagano é head of strategy and data da Grey Brasil