Esta sopa de letrinhas aí no título deste artigo diz algo para você? Ambas as palavras começam com green, mas têm significado antagônico. Na verdade, elas definem comportamentos pouco assertivos em torno da política de adoção de práticas ambientais nas empresas. Ou seja, nem tudo que começa com green é positivo...
Nesses tempos em que as conferências internacionais do clima – COPs – e outras iniciativas, como o Pacto Global da ONU, entram na pauta das empresas e ganham manchetes dos meios de comunicação, é importante conhecermos melhor as nuances em torno da agenda ambiental e os princípios ESG, de maneira mais ampla. Vamos lá!
Greenwashing é o termo usado para definir ações inconsistentes ou de pequeno impacto por parte de empresas que as divulgam como se fossem grandes feitos na área ambiental.
Por exemplo, o alarde feito por uma grande empresa de bebidas, comunicando aos quatro ventos que tinha produzido umas 6 carrocerias de caminhões de entregas feitas com material reciclado de embalagens de seus produtos. A ação é bacana, mas o que são 6 carrocerias para uma empresa que tem uma frota de centenas de caminhões?
Se a notícia viesse acompanhada da informação de que TODAS as carrocerias passariam a ser produzidas com o material reciclado, seria uma ação digna de grande divulgação. Isso é greenwashing!
As empresas precisam ter consciência de que a comunicação de suas ações positivas é lícita, desde que seja coerente com porte da companhia, com a devida mensuração de resultado obtido e do impacto decorrente, além de observar materialidade.
A materialidade existe quando a ação tem aderência intrínseca ao objeto social principal da empresa. Quando os stakeholders são consultados e reconhecem a pertinência daquela ação dentro da abrangência de atuação da empresa.
Há um outro termo semelhante – bluewashing (ou socialwashing) –, que é usado para ações inconsistentes no campo social. É quando, por exemplo, uma empresa contrata uma pessoa preta para atuar na recepção e se alardeia inclusiva.
Aí você percebe que foi uma ação isolada, sem extensão para o quadro geral de colaboradores, sem uma política de inclusão consistente, sem prever um percentual significativo de pessoas pretas, inclusive em cargos de liderança.
Pois bem, esse é um lado da balança: o da divulgação exagerada, sem consistência. Vamos agora ao lado oposto: o do greenhushing.
É o termo que define a atitude de empresas que já vêm adotando práticas ESG, mas têm o receio de divulgar suas ações por temer o escrutínio dos críticos.
Muitas delas não têm KPIs claros, tampouco parâmetros que possam dar segurança para se sentirem compliant às melhores práticas.
Nem sempre a busca por certificação é a solução. O importante é ter o desejo genuíno de se alinharem aos critérios ESG e contarem com ajuda de especialistas para um diagnóstico criterioso e um plano estratégico que as coloque na direção das melhores práticas.
É preciso ter o devido entendimento que ninguém as cobrará por não efetivar todas as ações necessárias para um alinhamento total de imediato. A cobrança existirá para que haja um plano verdadeiro, realista, com materialidade e metas claras.
Por exemplo, se a empresa ainda não tem igualdade de gêneros entre os seus colaboradores, ninguém espera que faça uma demissão em massa de homens e os substituam por mulheres. O que se espera é a identificação da disparidade e o estabelecimento de ações efetivas para corrigi-la.
Neste mesmo exemplo, a empresa deve promover ações afirmativas para capacitar mulheres e privilegiá-las na seleção e contratação de profissionais para futuras vagas. Esse processo pode levar anos. E tudo bem!
Desde que a intenção esteja clara, não há problema em comunicar seus planos e se posicionar como uma empresa em busca do alinhamento aos critérios ESG. Na dúvida, a solução é buscar o bom senso e adotar transparência e comedimento.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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