Depois de dois anos de pandemia e um de pós-pandemia como experiência, tenho algumas ponderações sobre o tema e o seu reflexo na criatividade. Principalmente nas equipes de criação de agências de publicidade. Para quem é sênior, estar em modo híbrido de trabalho aparentemente é muito melhor, já que a pessoa pode pegar o trabalho, discutir o briefing e fazer as apresentações de maneira presencial, mas pode se concentrar e criar isolado em casa ou em videochamada com seu parceiro. A pessoa com experiência já absorveu os processos e passos mentais para avançar sozinha ou por vídeo. Conheço muitos que abrem a chamada de manhã com sua dupla e passam horas trabalhando online, cada um em seu canto. Quando alguém quer falar puxa assunto e a coisa acontece. O modo híbrido de trabalho hoje permite que centenas de publicitários brasileiros trabalhem para outros países. O que é ótimo para eles e para as empresas que os contratam.

Já para quem está começando, o que significa um profissional com nove anos de carreira, o presencial tem sido francamente melhor, pois se acelera o aprendizado através das interações diárias com profissionais mais experientes. Para o redator, diretor de arte e criador de conteúdo é a diferença entre mostrar o material para o profissional mais experiente ali do lado, pedir umas dicas, trocar impressões ou de decidir tudo sozinho e acabar levando ideias ou já vistas, ou perdendo alguma grande ideia ali no meio que precisava de mais dedicação para se tornar visível.  Você evolui muito mais rápido, sem dúvida. A troca com o ser humano ao lado melhora a cognição, que é a maneira que a gente aprende a linguagem humana.

Quando você ouve com atenção as pessoas e está próximo delas, hormônios como ocitocina são liberados. Daí vem empatia, simpatia, amizade, admiração. Isso o vídeo ainda não oferece. Por outro lado, o presencial para os seniores seria interessante também. Refresca as ideias, e apresenta diariamente referências musicais, visuais e enriquece o vocabulário e o repertório com a troca de experiências com os mais jovens. Os mais experientes podem demonstrar a quem está começando a fleuma do negócio. O sangue frio, quando falar numa reunião e como enfrentar algo com o qual não se concorda. Tudo o que não está escrito e  não cabe num link pode ser trocado no ambiente de trabalho. Porque a maior parte desse aprendizado não é falado, mas mostrado. É claro que isso quer dizer mais esforço. Pegar transporte, ir até um lugar, se vestir para isso, trocar bom dia num dia aborrecido, por exemplo. Mas daí entra linha do investimento pessoal de cada um, como aprender uma nova língua, ou fazer um curso de cinema ou roteiro para evoluir no craft. Vejo da mesma forma essa questão.

Mas sem dúvida que a química para ter equipes e criar times fica mais fluida no presencial. Sempre tive essa inclinação em formar times, ver o todo evoluir e chegar a algum lugar com isso. Alguém antes de mim teve essa visão em fazer com que eu evoluísse. É meio sr. Miagi. Acredito que não há resposta certa em relação a ser híbrido (4x1, 3x2 etc.) ou totalmente presencial. Para as empresas, principalmente as grandes, o híbrido é bom, pois economizam muito em aluguel, infraestrutura, limpeza etc. Para a qualidade do trabalho, depende quem está híbrido. Qual área. Se for uma equipe sênior na maioria, vai acabar dando certo. Mas, e os próximos talentos? Como as novas gerações de profissionais vão alcançar um alto nível qualitativo? Se eu estivesse no começo de carreira hoje iria todos os dias para acelerar esse processo de evolução. E estaria adorando esse movimento de quem faz questão de ficar em casa. Mas isso é algo totalmente pessoal e existem exceções em tudo, além do que essas são observações dos últimos anos. E você, o que acha? Híbrido ou presencial?

Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech and Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br