“Estamos no limiar de um admirável mundo novo. Sou um otimista e acredito que podemos criar IA para o bem do mundo. Que possa funcionar em harmonia conosco. Precisamos simplesmente estar conscientes dos perigos, identificá-los, empregar as melhores práticas e gestão possíveis”. Com estas palavras, Steven Hawking abriu a primeira noite do Web Summit 2023, com sua fala de 2017 projetada na tela do palco principal da Altice Arena, em Lisboa.

Apesar de ter servido apenas como um aquecimento para o evento principal, a escolha do tema deste e dos vídeos subsequentes - Opal Tometi, fundadora do Movimento Black Lives Matter, Al Gore, empresário e ambientalista americano - certamente deram o tom dos temas que o evento quer continuar priorizando nos próximos anos, agora sob a liderança da CEO Katherine Maher.

Maher foi a grande estrela da noite, não apenas pela falta de um nome de peso como Olena Zelenska, primeira dama da Ucrânia, que abriu o evento em 2022, mas porque assumiu o Web Summit há menos de um mês após a renúncia do fundador e CEO Paddy Cosgrave e precisou lidar com uma grande crise e a saída de grandes patrocinadores e palestrantes. Ela subiu ao palco adotando um discurso inspirador, falou da crise recente defendendo a liberdade de expressão e opinião dentro do evento e desceu do palco para se apresentar três pessoas aleatórias, seguindo uma tradição da noite de abertura.

O painel principal teve a participação de Jimmy Wales, cofundador da Wikipedia, falando sobre como o ChatGPT não é uma ameaça para a enciclopédia hoje pela falta de precisão e profundidade para temas mais complexos.

Inteligência artificial foi o grande tema do ano. Grande parte dos painéis tinha IA no título ou citou de passagem. Dan Gardner, CEO da agência Code and Theory, fez a melhor definição do nível de discussão corrente - ninguém deixa de falar sobre inteligência artificial para não perder a onda, ao passo que poucas pessoas têm experiência o suficiente para falar com profundidade hoje. Gardner defendeu que a melhor integração entre seres humanos e IAs acontece quando cada um trabalha com as suas forças. Empatia, criatividade, experiência para os humanos. Reconhecimento de padrões, automação e predição para as máquinas.

Um momento marcante foi a demonstração feita por Vasco Pedro, CEO da empresa Unbabel, especializada em traduções feitas por IA, que criou um wearable capaz de traduzir pensamentos e transformá-los em texto e áudio, através do uso de sinais motores e um sistema de reconhecimento de padrões de resposta do usuário. Uma tecnologia capaz de ajudar pessoas portadoras de doenças limitadoras como ELA, a mesma que Stephen Hawking tinha.

Vasco pediu para pessoas da plateia fazerem perguntas aleatórias e respondeu usando seu dispositivo, sem dizer ou digitar uma palavra, impressionando o público presente.

Experiências como essa são a síntese do Web Summit, um evento que mistura pessoas de todas as partes do mundo com um objetivo claro de fazer networking, gerar negócios e discutir as tendências da tecnologia que vão afetar o mundo nos próximos anos.

Guilherme Sagas é sócio e diretor de estratégia e marketing na agência gamer GMD