De certa forma, o que vem acontecendo hoje com a IA – inteligência artificial – faz parte da história da humanidade.
À medida que novas leituras, compreensões, entendimentos converteram-se em formas e métodos mais eficazes, usando menos para produzir mais, organizando-se de forma mais racional o processo, em algum momento isso acabou por repercutir nos postos de trabalho, determinando uma redução significativa no correr das décadas e, mais adiante, anos.
E assim, em ritmo moderato cantabile, a humanidade foi se movimentando. Deixando a terra, ocupando os galpões industriais, mais recentemente, os escritórios, e hoje, em decorrência da pandemia, trabalhando de suas casas. Em 1940, somente 31,2% dos brasileiros viviam nas cidades. Em 2022, apenas 12,6% dos brasileiros seguiam em áreas rurais.
Em cada uma dessas evoluções, o tempo foi diminuindo, mas, ainda assim, demandava décadas para ter expressão econômica e humana. Agora, o papo é outro. É tudo para ontem. Fala-se de forma mais consistente, com demonstrações acessíveis, sendo otimista ou benevolente, do início desta década para cá. E a cada novo dia, uma novidade. E no dia seguinte, também...
Assim, como não poderia deixar de ser, um dos assuntos dominantes na semana passada no Retail Big Show 2025 de NYC, o maior evento em todo o mundo sobre
varejo, e tendo o Brasil com a maior delegação, com mais de 2 mil profissionais, foi a IA – inteligência artificial.
E num dos momentos mais importantes do evento, conforme relato de Adriana Martins, de Valor, a fala da VP da Nvidia, Azita Martin, em que, relembrando uma declaração de Jensen Huang, CEO da empresa, que respondendo à questão “O ChatGPT vai tirar nosso emprego?”, disse: “O ChatGPT não vai tirar, mas alguém usando IA generativa pode roubar seu emprego”.
E é esse o dilema que hoje prevalece não apenas no varejo, mas em todas as empresas, em todo o mundo, e pode se converter na maior crise social dos tempos modernos. Repetindo, de certa forma essas rupturas e evoluções vêm acontecendo em toda a história da humanidade. E, como se diz, faz parte. O que não fazia parte é que uma inovação ganhe graus absolutos de eficácia em questão de anos, meses. E é esse o desafio que o mundo enfrenta hoje.
Como amortizar ou atenuar os impactos devastadores, no curto prazo, de um monstro devorador de empregos chamado IA, inteligência artificial?
Nada contra a IA, seguramente e até agora, uma das mais importantes conquistas da humanidade de todos os tempos. Que, no fim do dia e dos anos, prolongará em muitos anos nossa expectativa de vida com saúde. Mas, que, e em curtíssimo espaço de tempo, provocará, repito, uma devastação. Aliás, já começou!
Jensen Huang respondeu certo. De forma direta a IA não tira o emprego de quem quer que seja, mas, alguém usando IA, o concorrente de sua empresa, por exemplo, pode ser mortal para a sobrevivência da empresa onde você trabalha, mas, num segundo momento.
O que Jensen Huang não disse é que antes de acabar com seu emprego, ou simultaneamente, reduzirá e em muito os postos de trabalho das empresas que se antecipam e adotam a IA.
Depois, sim, e como decorrência, acaba com os empregos nas empresas concorrentes, e até mesmo acaba com as empresas. Mas antes, e pela adoção e domínio, acaba com os empregos nas empresas que mais rapidamente aderem à conquista. Aquelas que saem na frente...
Assim, nem celebre e nem comemore se a sua empresa for uma das primeiras a aderir à novidade. Se, como aprendemos em tempos de digital, “se é de graça o produto somos nós”, se a empresa onde trabalhamos é das pioneiras e inovadoras, a que adere mais rapidamente às novidades, a cabeça a rolar pode ser a sua...
Lembram: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. São mais ou menos assim, os dias que vivemos...
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
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