O Ciclope Festival, um dos mais prestigiados eventos do calendário internacional de criatividade, se reafirmou como um ponto de encontro essencial para profissionais do audiovisual. Diretores, produtores, roteiristas, criativos se reúnem ao longo da semana para celebrar o craft na publicidade. Na edição deste ano, o festival não apenas celebrou, mas também trouxe à tona discussões importantes sobre as transformações que o mercado enfrenta, especialmente no que diz respeito a tecnologia e novos modelos de negócios.
As palestras giraram em torno das mudanças provocadas pela inteligência artificial e suas implicações no resultado de craft e os modelos de negócios. A produção in-house das agências também foi um tema, gerando debates sobre como essa abordagem altera as dinâmicas de trabalho. Produtoras passam a ser acionadas diretamente pelos clientes, resultado dessa demanda por craft nos filmes e novos formatos.
A importância da visão criativa dos diretores foi um dos pontos altos das discussões, reforçando a ideia de que, apesar das inovações, o "talento" humano continua sendo fundamental para a excelência das produções publicitárias.
Entre as palestras e cases que me chamaram atenção, está a apresentação da diretora C. Prinz, da Smuggler, que destacou-se como uma das palestrantes mais aclamadas da programação, compartilhando insights sobre a importância da entrega genuína e única nas produções. C. Prinz além de diretora, ela também é coreografa e trás o universo da dança para os seus filmes. O filme 'Awaken your madness', criado pela W+K e produzido pela Magna.Studios para a Nike revelou todos os desafios de produção por trás das câmeras, a dificuldade de trabalhar com celebridades e a complexidade de logística envolvida. Em resumo, o painel destacou a importância da colaboração entre cliente e produtora como um elemento vital, sublinhando que o sucesso de uma campanha depende de um esforço conjunto. O Festival apresentou ainda como keynote David Droga (CEO da Accenture Song), falando um pouco sobre sua trajetória e perspectiva para o futuro da publicidade.
Outro destaque, aclamado pelo público foi a apresentação do coletivo brasileiro The Youth, que trouxe uma nova perspectiva e mostrou a força da nova geração de criadores, reafirmando a vitalidade do setor.
A cerimônia de premiação celebrou a excelência do craft ao redor do mundo e o Brasil teve papel de destaque na edição desse ano. O Grand Prix foi conquistado pelo coletivo 'The youth', com a campanha 'Spreadbeats' dirigido por Matilda, que destacou a inovação que surge da nova geração. O Ouro foi atribuído ao filme da Zombie, que destacou a força da animação brasileira no cenário global. Um 2o Ouro da noite que merece destaque foi para categoria “New Talent”, onde tivemos a presença do diretor brasileiro Giordano Maestrelli, da Stink SP. Além disso, produção 'Tormenta' para O Boticário, com criação da ALMAP e produção da "My Mama", dirigido pela dupla Kid Burro ganhou um prata na categoria “production design”. Ainda tivemos, em videoclipe na categoria direção um prata para a dupla Paladinos, com produção da CZAR e duas campanhas da Lobo também foram premiadas com um bronze, demonstrando a diversidade e a qualidade do trabalho brasileiro.
Mais uma vez o festival se destacou como um espaço de aprendizado e troca de experiências, no tange o universo de produção publicitária. Com a crescente importância da colaboração e da inovação, o evento inspirou profissionais a se adaptarem às mudanças do setor.
Foi emocionante presenciar que à medida que novas vozes emergem e conquistam reconhecimento internacional, o Brasil vai se consolidando como celeiro de talentos e mercado promissor. O que fica de aprendizado do Ciclope, é que esse é um festival que não apenas celebra a criatividade, mas também inspira todos a abraçar as transformações e a trabalhar em conjunto para moldar um mercado mais humano e inovador.
Marianna Souza é presidente da Apro e gerente-executiva da FilmBrazil