Lula não é o primeiro nem será o último presidente a chamar o seu pessoal de comunicação para uma conversa, já que o governo anda mal avaliado. Porque para o governante não tem governo ruim, tem comunicação ruim.

A comunicação de governo existe para enaltecer o que vai bem e disfarçar o que vai mal. Pode parecer um disparate. Mas o fato é que o seu papel maior é o enfrentamento com a comunicação da concorrência, também chamada de oposição.

Que, nesse caso, faz um papel inversamente proporcional: negar ou atenuar os méritos do governo e superdimensionar seus erros. Isso vale para anúncios, notícias, entrevistas, discursos... enfim, por todos os meios que cheguem à população.

É interessante o crescimento do investimento em comunicação de marketing dos personagens políticos. Tenho acompanhado com interesse o desempenho de Nayib Bukele, presidente de El Salvador, e de Javier Milei, da Argentina. Cada um ao seu estilo, vai se tornando um personagem de algoritmo, alguma coisa criada pela IA.

Enquanto Milei vocifera raivoso, estilo que o elegeu com folga, mesmo enfrentando as mais terríveis artimanhas do marketing político made in Brasil, Bukele quase flana, em suas exposições serenas, gravadas e editadas com esmero artístico.

É a forma dando uma aura santificada a um conteúdo que induz a uma arriscadíssima adesão a um totalitarismo populista. Ambos promovem uma poderosa lavagem cerebral nas massas de eleitores que ficaram órfãs de suas crenças. A maioria já não quer mais saber do que um dia acreditou: a tentativa de equilibrar interesses econômicos diversos, agindo com cautela, no limite de evitar matar a todos os pobres de fome, em benefício dos interesses do capital, sustentáculo da democracia, enquanto conveniente. Não funcionou, porque apenas “não morrer de fome” de um lado, e simplesmente “morrer de fome” de outro, passaram a ser vistos como resultados insatisfatórios, depois de décadas.

Esse padrão “democrático”, no entanto, durou bastante. Graças a uma comunicação eficaz, tocada por gente bem alimentada que formava os formadores de opinião que, por sua vez, formavam a opinião pública eleitoral.

Parece, porém, que o estoque de boas ideias acabou, e se escancarou uma porta formidável para os melhores talentos servirem ao outro lado, o radicalismo, sempre a resposta mais desejada por quem tem pressa. Espumando, como Milei, ou emanando afeto, como Bukele, os novos líderes exprimem aquilo que é música para ouvidos ávidos por palavras novas.

Milei, aos palavrões, aposta que do caos de um mercado sem regras nascerá uma necessária acomodação natural, que beneficiará a todos. E me lembra um pouco a tal da imunização de rebanho que o Bozo recomendava para enfrentar a Covid.

Pobres demais sempre serão um problema. Bukele, com doçura, segurou a bandeira da segurança e, numa ação de simploriedade genial, mandou prender 70.000 “vagabundos” (1,5% da população) e o país, do dia para a noite, virou uma espécie de Suíça dos pobres.

Não sei se isso vai dar certo para sempre, mas, até agora, vem dando, graças a uma comunicação bem pensada e produzida com refinamento. Uma área em que o Bozo tropeçou na própria estupidez e caiu de cara no chão e em que Lula, teimoso, ainda cambaleia.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
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