Eu estava disposto a não tratar mais do efeito Trump por aqui, mas não me contenho. Afinal, a pauta da mídia não nos deixa esquecer essa mudança crítica que está acontecendo no mundo, na esteira das decisões do governo Trump.
No momento em que escrevo este artigo, tenho a informação de que os EUA vão taxar importação de aço e alumínio em 25%.
Ops! Agora começou a mexer conosco. Afinal, o Brasil é grande exportador desses itens para os EUA. Temos então de tomar uma posição. Como vai ser? Pois é... o tal MAGA (Make America Great Again) está sustentado numa postura de confronto, egoísmo e protecionismo (já tratei disso em artigo anterior neste espaço, sob título ‘O pirão todo, só pra mim’).
Fazer a América (na verdade, Trump trata a América toda como se fosse os EUA) grande outra vez significa confrontar parceiros e todos aqueles que vendem muito para os EUA, usando a força da taxação como instrumento de pressão. Em vez da diplomacia e do bom diálogo, esse novo governo americano prefere ameaçar primeiro para gerar negociação depois.
Se fosse só isso, o impacto seria apenas no comércio internacional, mas as atitudes autocráticas unilaterais estão alcançando também a participação dos Estados Unidos nas instituições de ajuda humanitária e colaboração internacional.
Numa atitude intempestiva orquestrada pelo controvertido (pra dizer o mínimo) braço direito do presidente americano, Elon Musk, a USAID, de tantos serviços humanitários pelo mundo, está sendo ameaçada de extinção.
Antes disso, já havia sido tomada a decisão de interromper a ajuda à OMS e a outras tantas instituições que recebem contribuições de diversos países, além dos EUA.
O que fica claro então é que o ‘Make America Great Again’, na verdade, é o mote para uma prática egoísta de eliminar todos os gastos que não beneficiem diretamente apenas os EUA. E dane-se o resto.
É bem o estilo de Musk, assessor do governo dos EUA que acumula riqueza com seus projetos bilionários, sem qualquer empatia com seus stakeholders e a sociedade, em geral. E ele é o braço direito de Trump. O que se espera de um grande estadista é uma gestão que melhore a vida dos seus compatriotas, mas também da humanidade.
Não só os governantes, mas todos nós devemos nos sensibilizar com os grandes problemas do mundo. Não podemos simplesmente ignorar que há mais de 800 milhões de pessoas passando fome por aí...
Trump alega que a USAID era foco de corrupção, com desvios de dinheiro para mãos erradas, além de ações de caráter político.
De fato, a USAID tem um histórico controvertido, mas não se justifica simplesmente acabar com a instituição – e suas preciosas contribuições – por conta disso. Estão jogando o bebê junto com a água suja da bacia. Que sejam implementados controles mais eficientes, que impeçam esses desvios.
O que não pode é interromper, assim de repente, uma importante ajuda humanitária e deixar milhares desamparados.
O fato é que o estilo Trump é contradizente com a tendência que vinha sendo observada no mundo, privilegiando um capitalismo consciente, reforçando aquela máxima que afirma que “um negócio só é bom quando o é pra todo mundo”.
Era a esperança de um mundo mais justo, mais inclusivo, mais sensível. Mas o que vemos é uma atitude diametralmente oposta a esses valores.
Tal atitude unilateral está gerando uma reação internacional, com retaliação na mesma medida, além de provocar uma antipatia generalizada, com um consequente movimento antiamericanista. É claro que no mundo dos negócios deve prevalecer o pragmatismo.
Não se faz negócio apenas com quem temos simpatia. Mas é triste ver esse retrocesso e suas consequências.
Todos aqueles mais conscientes prefeririam ter governantes dispostos a tornar o mundo todo grande (no seu sentido mais amplo) e não somente a tal América do Trump. Let’s make the world great again!
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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