Já escrevi aqui, em outras oportunidades, sobre o orgulho imenso que eu sempre senti, e ainda sinto, de ser publicitário. Um orgulho de ver um trabalho meu sendo veiculado no boteco, parar o papo e falar pra galera: eu que fiz! Já falei também de como vejo cada vez menos esse brilho nos olhos das novas gerações. Onde a garotada, com algumas exceções, vê uma profissão como outra qualquer, minha geração via uma paixão. Uma tara. Amor incondicional, que aceita defeitos.

Mas não culpo a molecada por esse desamor. Nossa profissão apanhou muito nos últimos anos, algumas vezes merecidamente, pelos excessos de alguns. Mas, se existe uma palavrinha que generalizou e canalizou tudo de negativo que podia se relacionar ao marketing, área ampla que engloba a propaganda, essa palavra é “marqueteiro”.

Quando está cumprindo sua função original, de substantivo, “marqueteiro” carrega um tanto de preconceito. Muito graças aos marqueteiros políticos, cujos piores exemplares foram frequentadores assíduos das páginas policiais, apesar de eu conhecer vários brilhantes e muito sérios. Marqueteiro político virou sinônimo daquele cara que pinta de dourado e embrulha pra vender um candidato que não tem, na verdade, nem a metade daquelas virtudes que lhe são atribuídas. Ou seja, um mestre da enganação. A eleição de 1989 foi um bom exemplo disso, lá se vão 32 anos.

E tem mais.

Para desgosto de tanta gente brilhante que se dedica às várias áreas do marketing, “marqueteiro” ultrapassou sua vocação de substantivo e se transformou em adjetivo.

Quando se referem a qualquer profissional, de qualquer área de atuação, que faz comunicação e divulga suas habilidades, seu know-how, suas conquistas, chamam o cara de “marqueteiro”. Daí surgiram médicos marqueteiros, advogados marqueteiros, cabeleireiros marqueteiros, dentistas marqueteiros. Pronto, virou adjetivo.

E, pensa bem, quando entra esse adjetivo depois da profissão, vem embutido ali um pensamento tipo: o cara não é isso tudo não, mas se vende bem!

Incrível como uma palavra ganha um tom desabonador e faz mal a todo um ecossistema. O marketing ajudou a impulsionar em muito a economia e gerou negócios, construiu marcas, criou empregos. E continua gerando, construindo, criando. Acho o veneno que injetaram nessa palavra injusto com tanta gente que trabalhou e trabalha nessa trajetória.

Isso sempre me incomodou. Não sei se muita gente do mercado concorda com o meu desagrado, acredito que sim. Antes de começar a escrever esta coluna dei uma pesquisada para saber se o tema era original. Não é. Já foi abordado em ocasiões diversas, até com propostas de novas terminologias, como “marquetista”, que acho que soa mal.

Valorizar a profissão que nós amamos é uma responsabilidade de cada um, em benefício de todos. Às vezes nos falta um pouco de corporativismo, no melhor sentido da palavra. Se o termo “maqueteiro”, por falta de substitutos, tende a ter vida longa, não perca uma oportunidade de rejeitá-lo quando ele trouxer junto aquele veneninho.

Rodolfo Sampaio é sócio e CCO da Moma (rodolfo@momapro.com.br)