Milhares serão as startups chamadas. Uma, talvez; duas, no máximo; escolhidas. Conforme já comentei em alguns artigos e entrevistas, a corrida das startups em busca do sucesso assemelha-se e em muito à corrida dos espermatozoides. Milhares correm na tentativa, mas apenas um chegará lá. Se tanto! Mais ou menos como em Mateus, 22: “Disse, então, o rei aos servos: amarrai-o de pés e mãos, levai-o e lançai-o nas trevas exteriores; ali não haverá pranto a ranger de dentes… Porque muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos…”. Repito, é pior que Mateus, 22. No máximo, um ou dois os escolhidos.

Quase todas as empresas de comprovado e monumental sucesso de hoje (Amazon, Google e “Feice”) levaram anos para os primeiros lucros. No mínimo, cinco anos no vermelho. Talvez, dentre todos os exemplos, o da Amazon seja o mais emblemático. Fundada pelo agora divorciado Jeff Bezos, no ano de 1994, apenas sete anos e dois trimestres depois, conseguiu ver um primeiro e tímido azul em seu balanço. Já Spotify, Uber, Lyft, e muitas outras, continuam crescendo de forma acelerada nas receitas, mas, em quase idênticas proporções, nos prejuízos, demandando mais e mais investimentos. Quanto mais crescem mais perdem dinheiro…

O importante, dentro dos novos critérios e da realidade do mundo, é que a partir de um determinado momento as receitas tenham uma aceleração proporcionalmente maior que as despesas. E que em 3, 5, 10, 20 anos, a curva das receitas ultrapasse a das despesas e as empresas venham a ser lucrativas. Neste momento, as supostas vencedoras, tudo o que querem é tomar e ocupar o espaço. Escalar. Ganhar dinheiro, só depois de ocupado o espaço, um pouco mais adiante… claro, se os investidores mantiverem-se pacientes. Spotify, por exemplo, uma das empresas da nova economia de maior sucesso de público e de crítica, dia após dia, vai se encaminhando para tornar-se um grande fracasso econômico. Mesmo com sua curva de receitas apresentando uma velocidade maior que a das despesas, isso só foi possível até aqui pela falta ou incompetência dos poucos concorrentes.

Do ano passado para cá essa situação inverte-se, com a entrada de novos e poderosos players no território do streaming de música, e assim a perspectiva de um dia a Spotify tornar-se lucrativa vai ficando pelo caminho. E, com a chegada dos novos concorrentes, os detentores dos direitos autorais aumentaram o apetite e querem renegociar o valor desses direitos… Para cima!

A conta não fecha. Lucro, então, pode esquecer. Ou seja, amigos, apenas estamos engatinhando na ciência e na arte de criarmos empresas poderosas dentro da nova economia com consistentes possibilidades de sucesso. No fundo — e não existe fundo —, não exatamente, mas quase, uma corrida semelhante à dos espermatozoides ou a Mateus, 22, muitos chamados, pouquíssimos escolhidos. Em tempo. Tudo o que acabei de comentar diz respeito à primeira onda de disrupção. A partir de agora começa a segunda. Novos disruptores disruptando os disruptores da primeira onda. Em síntese: mesmo as exceções vencedoras estarão submetidas a um permanente provar-se relevantes. Sempre! Caso contrário… Mateus, 23… “eis que a casa de vocês ficará deserta…”.

Assim é o Admirável Mundo Novo que está nascendo. Plano, líquido, colaborativo, impiedoso. Sem segundas chances e apreço zero a incompetência e mediocridade. Talvez alguns de vocês sintam-se tentados a dizer, mas como esse mundo é cruel. Sinto muito, amigo. O mundo não é cruel. O mundo é o mundo. Feito por nós. Somos nós mesmos, consumidores diplomados, que prezamos nossa moeda tempo, nossa moeda dinheiro, pela ordem, e abominamos irrelevâncias. Finalmente, chegou nossa hora e nossa vez. Talvez, o melhor do ser humano. Querer evoluir e prosperar. Exigir mais e melhor. Para todo o sempre. Amém!

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)