Depois de uma palestra para alunos da Unifebe, em Brusque, ouvi uma pergunta que me pegou desprevenido.
Ainda que seja um assunto tão falado, tão discutido, desde a pandemia, me surpreendi com o fato de nunca ter dedicado tempo para refletir sobre a conveniência ou não do trabalho em home office.
Talvez seja porque já faz tempo que não fico preso a uma agência, cumprindo expediente. O trabalho remoto virou rotina para mim. A pergunta, no entanto, me fez despertar para o assunto. Como profissional de criação, eu diria que até a passagem de 1999 para o ano 2000, o trabalho presencial era importante.
Depois, com a paulatina comoditização das expectativas de quem demanda o serviço, toda a riqueza de aportes que o processo orgânico da convivência proporciona, passou a ser dispensável.
Nos anos 1980 e 1990, apogeu da criatividade brasileira, éramos, os criativos, como dançarinas de night club. Tirem-se os jogos de luzes, a música insinuante, a fumaça dos cigarros, o vozerio, as risadas, o tilintar dos copos e acabou-se o “clima” para uma performance matadora. Trazendo, agora, para o cotidiano dos ambientes da criação, ali respirava-se um ideário, com o objetivo claro de construir a imagem da agência, através das ideias que propúnhamos e aprovávamos com os clientes.
Então, não se tratava apenas de somar a informação objetiva que recebíamos nos briefings com o poder do nosso talento criativo. Havia incontáveis outros fatores, resultantes de um processo vivo, pulsante, excitante e desafiador, só possível numa reunião física, permanente e, por isso, deliberadamente, propensa ao improviso.
É certo que, hoje, podemos reproduzir, em reuniões remotas, a “convivência” de quantas pessoas quisermos. Só que são encontros com hora para começar e terminar e pauta definida.
Faz sentido. A reunião remota implica na interrupção do que cada um está fazendo para participar de uma “call”, como acontece em qualquer maldita reunião.
O trabalho criativo presencial é diferente, pois ele germina num “estado de reunião” natural, profícuo e perene. A minha experiência me faz acreditar mais no surpreendente, gerado naquilo que não foi combinado, do que no consenso dramaticamente necessário, antes que as câmeras de uma live sejam desligadas.
Mas isso, hoje em dia, virou utopia ou saudosismo. Vivemos um momento muito conveniente para resolvermos as coisas com rapidez.
Em home office, recebemos encomendas e fazemos entregas, adequadas ao que foi, formalmente, definido. Sim, temos o direito de pedirmos uma “call” para esclarecimentos ou sugerir caminhos diversos.
Mas só de pensar que teremos de nos encaixar numa agenda, em que todos os envolvidos com o job, não importa a área, possam estar presentes e expressarão suas opiniões sobre qualquer assunto, criando uma situação paradoxal, em que o conflito da convivência da pressa com a perda de tempo fará brotar, na melhor das hipóteses, uma neurose coletiva, eu desisto. Ou seja, não há mais espaço nem tempo para brigar por ideias.
Então, para quê subir no ringue?
Não tá legal ficar em casa?
Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
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