Após Mark Zuckerberg anunciar sua nova proposta de metaverso, o mundo não foi mais o mesmo. Junto com o surgimento de novas aplicações de realidade virtual e aumentada, e com o boom dos NFTs, a novidade colocou o mercado em uma corrida para entender como se posicionar e aproveitar os benefícios dessa, literal, nova realidade. Os conceitos que antes estavam conectados apenas à ficção científica e ao universo gamer se tornaram pano de fundo das discussões corporativas em todo o mundo.

Esse movimento aguçado pelo uso de tecnologias, acelerado pela pandemia, abriu caminhos para novas soluções e experiências. Com um público cada vez mais conectado e demandando personalização no online, os esforços para a construção de um relacionamento único e direcionado acabaram por convergir no metaverso. O espaço que tenta replicar a realidade, permitindo uma interação virtual constante – do trabalho ao entretenimento – atraiu os olhares e os investimentos de grandes companhias. Segundo dados da Crunchbase, somente no último trimestre de 2021, quase US$1,9 bilhão de capital de risco foram investidos em startups de software e hardware de realidade virtual e aumentada.

O verso do meta
A expectativa do Gartner é de que até 2026, 25% das pessoas passem pelo menos uma hora por dia no metaverso. Apenas para se ter uma ideia, a palavra-chave “metaverso” gera mais de 677 mil resultados no Google. Já a hashtag #metaverso tem mais de 60 mil postagens no Instagram, e é twittada mais de 500 vezes por hora.

O crescimento exponencial desse mercado, descortina uma avenida de oportunidades para a construção de uma comunicação direta e efetiva com os mais diferentes públicos-alvo. Para a publicidade e o marketing, surgem novas oportunidades para explorar e oferecer soluções e ideias. Os usuários podem criar seu próprio jeito de ser e estabelecer desejos de consumo. As marcas, por sua vez, podem implementar comunicações próprias para a nova dimensão.

Grandes oportunidades para grandes marcas
O mercado do metaverso tem movimentado altas cifras e as empresas apostam na nova dimensão para atrair seus consumidores. A Balenciaga, marca de luxo, se tornou a primeira do ramo a fazer parceria com o jogo Fortnite, fenômeno com mais de 400 milhões de usuários globais. A grife criou quatro roupas virtuais que os jogadores podiam comprar, junto com acessórios e ferramentas.

Outras grandes marcas como Nike, Gucci, Itaú e TIM também já estão nesse ambiente, com objetivos de criar espaços de interação, negociar produtos digitais ou promover campanhas publicitárias. A plataforma Decentraland, que se define como um mundo 3D “completamente decentralizado”, já movimentou mais de US$ 50 milhões desde 2020 com transações de terrenos, avatares, nomes de usuários e roupas virtuais.

Entre os segredos para uma estratégia de marketing bem-sucedida nesse novo universo paralelo está a criação de experiências que se relacionem com aquelas vivenciadas no mundo real. Não adianta uma empresa apostar em conexões esportivas no metaverso se nunca teve uma ligação com o tema na realidade. Outros fatores-chave envolvem as diferentes oportunidades de imersão e a exclusividade, com a criação de coleções limitadas e itens colecionáveis produzidos apenas para o metaverso. A experimentação também é fundamental para quem quer navegar à frente nesse novo oceano.

Metamarketing
O crescente investimento no metaverso representa uma porta de entrada para a era do marketing 5.0, que poderá oferecer experiências inovadoras, capazes de ser otimizadas em tempo real por meio dos dados gerados pelos próprios usuários. O que por um lado é positivo, por outro esbarra na grande preocupação com a privacidade dos usuários. A nova realidade é capaz de armazenar ainda mais dados sobre as pessoas, que podem resistir a compartilhar mais informações digitais do que já permitem.

Por isso, a criatividade, a inovação e o conhecimento serão caminhos mandatórios. É preciso encontrar formas de impactar o público, oferecendo uma experiência mais robusta que os atuais conteúdos digitais, de mídia e e-commerce, sem acabar com os pacotes de internet e, principalmente, garantindo idoneidade e transparência no uso das informações coletadas.

As marcas precisam começar a ter a preparação necessária para incluir esses diferenciais em suas campanhas, desenvolvendo novas abordagens que gerem experiências significativas para o consumidor, e estejam atreladas ao uso de dados, assim contemplando toda a jornada de consumo data driven. Para sair do óbvio, os profissionais de marketing devem estar preparados. O cliente de hoje, e principalmente o de amanhã, está no mundo virtual. É o movimento evolutivo esperado: a internet foi experimental em um ponto, tornou-se em seguida o espaço onde algumas marcas faziam sucesso e, então, a principal forma de comunicação para grande parte do mercado.

A diferença, na prática, é que o que antes levava anos para se concretizar se transformou em um processo de meses.  Para não somente sobreviver, mas despontar e sobressair-se nesta nova realidade, a meta é ser metamarketing, ou seja, agregar valor com agilidade, uso de dados e muita criatividade.

Talita Bieliauskas é operations director da GhFly