O tempo passa e o tema ESG ganha visibilidade e tração, mas traz também muito questionamento e controvérsia. Nas minhas interlocuções por aí, tenho notado uma compreensão equivocada de diversos pontos relacionados às questões ambientais, sociais e de governança.

Decidi, então, trazer aqui para este espaço uma reflexão sobre mitos e verdades em torno da sigla ESG. Vamos lá?

1- ESG é mais um desses modismos que são criados em torno da administração de negócios. Mito!

Na verdade ESG, que vem do inglês Environmental, Social e Governance (Ambiental, Social e Governança), é uma releitura de conceitos e práticas que já são discutidos e implementados há muito tempo. As questões ambientais são amplamente consideradas pelas empresas há tempos, sob os conceitos de sustentabilidade ou responsabilidade ambiental.

Do lado social, há muito se fala das iniciativas para gerar maior inclusão de minorizados, diminuir as desigualdades e tornar o ambiente de trabalho mais respeitoso e igualitário.

Essas questões sociais eram tratadas pelo uso de outros termos, como CSR (Corporate Social Responsability) ou, em português, simplesmente Responsabilidade Social. E as questões de governança têm estado na pauta das empresas há muito tempo, com a valorização da ética e da transparência da gestão corporativa. Outros conceitos foram pavimentando o caminho para a criação do ESG.

Vale salientar o Triple Bottom Line, conceito criado pelo britânico John Elkington, que estimula as empresas a pensar, não somente na geração de lucro, mas, também, no respeito às pessoas e ao planeta. Três dimensões de critérios na administração: daí o termo triple bottom line.

Outra iniciativa importante foi a criação do conceito Capitalismo Consciente, cunhado por John Mackey (fundador da rede varejista americana Whole Foods) e Raj Sisodia, professor indiano. Some-se a esses, os movimentos das COPs da ONU, principalmente a COP 21, quando foi assinado o Acordo de Paris, e a pressão dos grandes fundos, capitaneados pelo Black Rock, que passou a exigir das empresas relatórios ambientais e sociais, em complemento aos financeiros, sob risco de ficarem de fora dos seus portfólios.

Todos esses movimentos dão solidez e relevância ao conceito ESG, que foi criado no fim de 2004, no documento “Who  cares wins”, gerado por grandes instituições financeiras, a pedido da ONU. Portanto, não se trata de um modismo, mas um movimento sólido e consistente, sem volta.

2- ESG é só para empresas de grande porte. Mito! ESG é para todos!

A grande empresa toma a iniciativa de se alinhar aos princípios ESG, mas precisa contar também com a adesão de toda a sua cadeia de valor. Haja vista o que aconteceu com as vinícolas do sul do Brasil, que foram implicadas em decorrência da má conduta de seus fornecedores, que tinham trabalhadores em regime análogo à escravidão.

3- ESG é mais uma linha de despesas. Mito! Nem sempre o alinhamento aos princípios ESG gera custos adicionais.

Às vezes, até proporcionam redução de despesas. Ao adotar o uso racional de água e energia, por exemplo, haverá uma redução na conta desses insumos. O simples fato de comprar energia no Mercado Livre de Energia – saindo da concessionária – já resulta em uma importante economia, que pode passar de 30%.

Do lado social, praticar DE&I (diversidade, equidade e inclusão), por exemplo, não necessariamente gera mais custos. Ao contrário, um ambiente diverso e inclusivo é mais produtivo, conforme demonstram as pesquisas.

Do lado da governança, adotar ética e transparência reduz riscos e torna a gestão mais eficaz. Enfim, pode até haver algum custo inicial para começar a praticar ESG, mas ele é altamente compensado pela maior produtividade alcançada.

Há outros pontos que mereceriam análise nesta nossa reflexão, mas ficam para outros textos.

O importante é adotar uma postura positiva e pragmática em relação a ESG e dar os primeiros passos. Os benefícios são garantidos!

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br