Segundo a Udemy, uma das maiores plataformas de ensino online do mundo, as
duas primeiras semanas da pandemia registraram um aumento de 95% na procura
por cursos no Brasil. No cenário global, esse número chegou a 425%. Assim como
milhões de pessoas, também fiz parte dessa estatística, optando por otimizar o tempo lendo e estudando tudo o que aparecia na minha frente: Unreal Engine, Oratória, DaVinci resolve, Naming, Empreendedorismo em países emergentes, Design sprint, texturização de chocolate, Produção musical para filmes, Blender, Roteiro de podcast, Figma, Solução de problemas complexos, Cultura empresarial e até Design e construção de luminárias em resina.

Foi durante a leitura do material de apoio de um desses cursos que me deparei, pela primeira vez, com o termo “nexialismo” — uma palavra que descreve pessoas capazes de construir nexos, ou seja, conexões entre diferentes áreas do saber, tecnologias e tendências. O termo aparece, inicialmente, no romance ‘The voyage of the space beagle’ (1950), de A. E. van Vogt, associado ao personagem Dr. Elliott Grosvenor, o único a bordo da nave espacial a usar uma abordagem multidisciplinar, capaz de unir inteligências distintas para resolver problemas complexos que especialistas isolados não conseguiriam enfrentar sozinhos.

O conceito de nexialismo apresentado por Van Vogt antecipa ideias modernas de pensamento sistêmico e interdisciplinaridade, destacando a importância de uma visão holística para enfrentar situações complexas. Embora o termo nexialista tenha sido cunhado na ficção científica, ele ressurge em discussões sobre profissionais capazes de conectar conhecimentos diversos em um mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo (VUCA).

E por falar em volatilidade: em 2021, foram catalogadas pouco mais de 350 ferramentas de inteligência artificial generativa. No momento em que escrevo este artigo, a plataforma There’s an aI for that já reúne mais de 36 mil, com uma média de 15 novas surgindo todos os dias. Ou seja, se você acha que vou sugerir dominar todas elas... errou. Além de ser humanamente impossível, ser nexialista não tem a ver com a quantidade de ferramentas que você controla, mas sim com o desenvolvimento de uma cultura de aprendizagem e, principalmente, com a forma como você conecta o que sabe.

E para que essa conexão aconteça de forma mais empírica, aqui estão as sete principais características do nexialismo que é preciso ter, ou desenvolver, para se adaptar às novas condições profissionais: 1. Pensamento sistêmico; 2. Colaboração interdisciplinar; 3. Curiosidade transversal; 4. Habilidades sociais e interdisciplinares. Promove escuta ativa, empatia e diálogo entre especialistas de áreas diferentes. 5. Atuar como facilitador da colaboração criativa; 6. Questionador por natureza; 7. Vocação para ambientes Incertos.

Em 2019, fundei a JNTO, produtora de projetos especiais adquirida em 2022 pelo Grupo W7M Investments. Naquele momento, eu ainda não tinha plena consciência de que cultivar uma cultura genuinamente multidisciplinar seria a chave para manter a empresa sempre atual, relevante e preparada para o presente. Seis anos depois, tivemos a oportunidade de colaborar com algumas das maiores agências do Brasil e do mundo, como AKQA, Publicis, Africa e VML, além de grandes anunciantes como Nívea, Netflix, McDonald’s, TikTok e Samsung.

Os projetos que desenvolvemos são tão diversos quanto complexos: metaversos, jóias tecnológicas, IAs, aplicativos, livrarias, soluções para smart cities e até tintas sensíveis à radiação UV. E talvez esse seja o verdadeiro prazer de trabalhar com inovação: você nunca sabe o que vem pela frente. O futuro, por mais que os gurus tentem antecipar, continua sendo essencialmente imprevisível.

A única certeza que levo comigo é esta: quanto maior o repertório de conhecimento, maiores são as chances de se adaptar ao que é incerto.

Cainã Meneses é COO da Jnto