De repente todos mais que encantados com a economia de dados, com a eficácia na comunicação comercial a partir dos serviços das redes sociais, e com índices espetaculares e inimaginados de retorno sobre o investimento. Lembram, “dados é o novo petróleo...”. E é assim mesmo. Uma espécie, de “jogo roubado”. Onde um terceiro tem acesso às cartas dos adversários, e dos amigos, também, e vende essa informação a um ou muitos interessados.
Tudo bem, se você não quiser, se dispuser de tempo, paciência, saco, e resistir à tentação de já sair usando antes de tomar todas as milhares de medidas preventivas, poderá evitar que vendam seus dados. Mas, menos de 0,01% das pessoas se dão a esse trabalho. A tentação é maior, e as pessoas não têm a mais pálida ideia de como seus dados escancarados ao mundo serão usados. A maioria das pessoas, por exemplo, e nas redes sociais, entope suas páginas de fotografias que, mais de 99%, ficam disponíveis e acessíveis para quem quer que seja.
Não existe conversa a dois no digital. Todas as conversas são, no mínimo, a três. Você, sua mãe, seu marido, seu namorado, seu amigo... e a rede social a quem você escancarou sua vida. Apenas isso.
Isso posto, está mais que na hora de nós, mundo, decidirmos o que queremos daqui para frente. Navegarmos em redes sociais com nossos dados escancarados – e essa é a essência econômica das redes para quem nossos dados valem ouro e vendem –, colocarmos x em todas as trancas possíveis e imagináveis, nos comunicarmos por códigos ou abrirmos mão da modernidade e só falarmos pessoalmente. Ao menos, os assuntos que até ontem chamávamos de confidenciais ou particulares.
Ou veremos nossas fotos nas situações mais absurdas possíveis, e mulheres grávidas sendo abraçadas pelos maridos a quem ainda não tiveram tempo de contar a novidade, porque os maridos já receberam a notícia através de
um vendedor de bercinhos... É isso amigos. Chega de inocência, e, ou, revolta e indignação. Escancaramos as nossas vidas por adesão a regras que jamais lemos ou leremos. Lembre-se da sabedoria do digital e da vida, “quando é de graça, o produto é você”.
Noticia desta semana da Reuters revela que a Meta – leia-se “Feice”, WhatasApp e Facebook – foi notificada pelo TJUE – Tribunal de Justiça da União Europeia –, sediada em Luxemburgo, que precisa restringir o uso de dados das pessoas coletados através das suas redes sociais e que usa para publicidade direcionada...”. Na decisão o TJUE diz, “Uma rede social online não pode usar todos os dados pessoais obtidos para fins de publicidade direcionada, sem restrição quanto ao tempo e sem distinção quanto ao tipo de dados...”.
É isso, amigos. A decisão é nossa. Os incomodados que se retirem, ou que passem horas colocando todas as proibições e impedimentos nas redes sociais que usam e depois de consultarem e entenderem todos os regulamentos. E já se preparando porque o número de mensagens que recebem e acabaram se acostumando cairá para próximo de zero...
Como de hábito, como sempre, continuará sendo assim enquanto nós, sociedade, não decidirmos o que queremos para nossas vidas e dados, a Meta defende-se, dizendo, “Todos os que usam nossas redes sociais têm acesso a uma ampla gama de configurações e ferramentas que permitem que as pessoas gerenciem como usamos suas informações...”. É verdade, mas, você chega aos parques da Disney disposto a passar os primeiros dois dias lendo regulamentos e preenchendo formulários, ou já quer dar uma volta na Space Mountain...?
Enquanto isso, e como sempre serão, no mínimo, três em todas as conversas, Eu, Você e a Rede Social... nossos eventuais segredos e confidências estão escancarados ao mundo. Nas redes sociais não existe o “no privado...”.
Por enquanto esse é o jogo. Funciona assim. Não gosta, não quer brincar mais. Desligue o smartphone, saia das redes, e mergulhe na solidão e isolamento. Em pouco tempo, dias, quem sabe horas, descobrirá que se converteu num ilustre desconhecido e ignorado, esquecido nos matos da modernidade, uma espécie de o novo faquir de Franz Kafka...
Por falar nisso, aproveite o abandono e a solidão para mergulhar nos livros, começando pela leitura do conto de Kafka... quem sabe você redescubra o maior dos faquires abandonados da modernidade, os livros...
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
fmadia@madiamm.com.br