O mundo inteiro está preocupado com as fontes energéticas. A demanda por energia só cresce, mas os meios para obtê-la nos países desenvolvidos ainda dependem fundamentalmente de combustíveis poluentes, como derivados do petróleo e carvão.

O ritmo de crescimento de fontes alternativas, como eólica e solar, aumenta, mas não no compasso da demanda e, principalmente, na urgência estabelecida no Pacto Global da ONU, onde espera-se uma contenção significativa do aquecimento global até 2030 e a condição de Carbono Neutro até 2050.

O contrapé decorrente da invasão da Rússia na Ucrânia, com toda a repercussão nos países da Otan e o consequente impacto no fornecimento de gás (um combustível menos poluente) à Europa, compromete o cronograma de países genuinamente dedicados a melhorar sua matriz energética.

Na falta do gás, alguns países se viram obrigados a aumentar o uso do sujo carvão para fazer frente às demandas do inverno rigoroso no Hemisfério Norte.

Não é o caso do Brasil. Graças à aposta nas hidrelétricas no passado, o Proálcool e, mais recentemente, o bom crescimento das fontes eólicas e solares, sem falar na biomassa, nosso país obteve uma matriz energética invejável, com perto de 80% advindos de fontes renováveis.

É uma condição única, que nos coloca em posição privilegiada nesse mundo carente de energia limpa.

Os países desenvolvidos lançam programas mirabolantes para tentar tirar o atraso, como o Moving Forward Act, dos EUA, um programa de incentivo de nada menos do que US$ 1,5 trilhão para acelerar a geração de energia verde naquele país.

Além da energia eólica e da solar, que crescem significativamente no mundo inteiro, inclusive no Brasil, onde, juntas, já representam mais de 23% da matriz energética, uma opção corre por fora: a do hidrogênio verde. O hidrogênio é uma fonte de energia supereficiente, três vezes mais poderosa que a gasolina, por exemplo. E, o melhor, seu único resíduo, depois de usado, é água. Aí você pergunta: por que então não estão todos dedicados a produzir hidrogênio? A resposta é simples: para se produzir hidrogênio, é necessária muita energia para se aplicar a eletrólise e separar o H2 do oxigênio existente na água.

Para países onde a matriz energética ainda é suja, não faz sentido usar uma grande quantidade de combustíveis poluentes para gerar uma outra fonte não poluente. Mas o Brasil tem água em abundância e energia limpa.

Podemos rapidamente produzir o tal do hidrogênio verde, gerado por fontes renováveis. Aos países desenvolvidos, resta a opção do hidrogênio azul, advindo de fontes poluidoras, mas tendo o CO2 “enterrado”. Um processo a ser considerado, mas muito mais caro.

Pois bem, imagine o nosso Brasil gerando uma grande quantidade de hidrogênio verde. Além de exportar o excedente, seremos também atraentes às empresas interessadas numa produção mais limpa.

No processo conhecido como nearshoring, atrairíamos indústrias estrangeiras para produzir aqui, usando energia limpa.

Perante esse quadro, não é exagero afirmar que o Brasil está realmente à frente de uma janela de oportunidade única para gerar riqueza e se transformar no país do presente e não aquele do futuro que nunca chega.

Fala-se muito – e com razão – da proteção e recuperação do meio ambiente no Brasil e do potencial dos créditos de carbono, mas uma visão estratégica do tal Brasil Verde passa obrigatoriamente por uma política que privilegie a produção de energia limpa. E rápido!

Porque o mundo inteiro está numa busca desenfreada por fontes energéticas alternativas, se utilizando de polpudos recursos para incentivar o seu desenvolvimento.

Nessa corrida, o Brasil já saiu na frente, mas tem de continuar em passo acelerado. A janela de oportunidade está aberta para o Brasil, mas não por muito tempo.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4