É parte de um poema de Don Antonio Machado, poeta e dramaturgo espanhol do século 19, a frase Caminante, no hay camino, se hace camino al andar (Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao andar). Está num dos seus epigramas de Provérbios e Cantares.

A frase não poderia ser mais pertinente aos dias atuais. Estamos vivendo tempos em que caminhos são desbravados ao andar, desvios são praticados todo o tempo, estabelecendo novos atalhos à medida da necessidade que se apresenta à frente. É uma certa negação à célebre frase cunhada por Lewis Carroll, ao escrever Alice no País das Maravilhas, dita pelo Gato Cheshire à Alice: “Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”.

Trazendo esses pensamentos para o mundo da administração de negócios de hoje, é possível afirmar que devemos balancear uma visão estratégica, um norte, com
uma postura de flexibilidade e ousadia na incerteza.

Tudo muda, o tempo todo. Se esperarmos ver horizontes cristalinos para dar o primeiro passo, titubearemos o tempo todo. Trago essa reflexão para o universo dos princípios ESG.

Ainda há muita incerteza em como adotar os critérios de respeito ambiental, responsabilidade social e de governança ética como parte da estratégia de empresas e instituições. Para começar a trilhar esse caminho eu recomendaria uma visão pragmática, do tipo: “Nossa empresa respeitará o meio ambiente, terá uma atitude socialmente responsável e adotará uma governança ética
e transparente”.

Não deveria ser essa a determinação de todas as empresas? Para as instituições financeiras, essa postura já é uma obrigação. O Banco Central, no fim de 2021, publicou um conjunto de normas, regulamentando a Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática PRSAC, obrigando as instituições financeiras a divulgar seus GRSAC – Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas.

Para as companhias abertas, a partir de 2023, também haverá a obrigação da apresentação de relatórios auditados com dados mais específicos em relação às ações das empresas em sintonia com os preceitos ESG. É a Resolução CVM 59, que prevê alterações no formulário de referência para sociedades de capital aberto a partir do início de 2023.

Para as demais empresas, ainda não há uma obrigação, mas há, sim, cobrança da sociedade por uma postura de alinhamento aos princípios ESG. Por enquanto, a adoção de uma estratégia em sintonia aos princípios de sustentabilidade, respeito social e de governança ética é um diferencial para as empresas que a praticam. Mas, não demora muito, passará a ser mandatório, sob risco de manchar sua reputação e começar a ser preterida nas relações empresariais e nas decisões de investimento. Então, por que não começar a trilhar esse caminho já?

Caminhante empreendedor, o caminho se faz ao andar. E, para dar o primeiro passo, estabeleça o norte: seremos respeitosos com o meio ambiente, seremos socialmente responsáveis e inclusivos e adotaremos uma governança ética e transparente.

Os passos seguintes serão naturais. Aliás, é possível até que sua empresa já esteja caminhando nessa direção. Talvez o início de tudo seja um diagnóstico para identificar quais são as ações já em curso. A partir daí, é só engajar os gestores em torno dos princípios e fazê-los considerá-los em seus planos.

Há processos que ajudam a catalisar essa postura nas empresas. Sessões de Design Thinking e planejamento criativo com as variáveis ESG, por exemplo. Benchmarking e exemplos criativos já são muitos.

No Cannes Lions Festival 2022, por exemplo, 90% dos cases vencedores de Grand Prix apresentaram uma pegada ESG. Uma boa consultoria pode ajudar na largada, consolidando conhecimento e contribuindo no planejamento. Depois, é só continuar caminhando. Não é simples – afinal, o que é simples na administração de negócios hoje em dia? –, mas também não é um bicho de sete cabeças. Caminhante, ponha-se a caminhar!

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br