Qual a diferença de uma crise em tempos de normalidade, e as de agora, tempos de brutal anormalidade, tempos de tsunami que devasta bases e assentamentos, que coloca o mundo agonizante e em acelerada despedida?

O fator tempo. Não existe tempo para recuperação. Apenas isso. Daqui a um minuto é tarde demais...

Os tempos protocolares seguem os mesmos. Que mais que possibilitavam que empresas se recuperassem e voltassem para o jogo. Hoje não existe esse tempo.

Como estamos diante da maior crise estrutural de todos os tempos, e por falar em tempo, e pela fragilidade e derretimentos dos alicerces da velha economia, empresas que mergulham em crise, dia após dia, enfrentarão uma dificuldade maior de retornar, de conseguirem o tempo necessário para a mais que aguardada, desejada recuperação.

E a cada novo dia, pior...

Em termos normais, o desafio era apenas da empresa reposicionar-se, reorganizar-se, recuperar-se finalmente, e volta a engatar nos ritmos como tudo funcionava ontem.

Hoje essa possibilidade não existe. Pode se reposicionar, reorganizar, e tentar recuperar-se, mas, quando acredita estar pronta, tenta voltar, e descobre que o trem da vida já se encontra muitas estações adiante.

Neste momento, no mundo inteiro, quem melhor tipificam essa epidemia de organizações em processo de falência, são as grandes e tradicionais organizações de varejo.

Nos Estados Unidos, das 30 maiores, 25 delas, que as pessoas jamais acreditariam passar por qualquer tipo de crise, deverão fechar suas portas nos próximos dois anos.

No Brasil, idêntico comportamento deve prevalecer. Assim, e talvez o melhor pior exemplo, na medida que causa constrangimento e tristeza em todos aqueles que como eu amam os livros, o melhor pior exemplo são as 4 grandes redes de livrarias que se despediram...

Uma que chegou a ganhar fama e fortuna, e estabelecer-se como referência e paradigma introduzindo o conceito de megastores, a Fnac, despediu-se há alguns anos, e ainda pagou R$ 150 milhões para a Cultura assumir a responsabilidade pelos custos do encerramento.

A Cultura recebeu os tais R$ 150 milhões, respirou por mais 2 anos, que rapidamente evaporaram, e em seguida, em 2018, pediu recuperação judicial.

E semanas atrás fechou a mais que emblemática loja do Conjunto Nacional. Uma espécie de concerto final e de despedida de uma época que chegou ao fim.

Em síntese, e em menos de 10 anos, despediram-se Laselva, Cultura, Saraiva e Fnac.

Nos velhos tempos, se uma Cultura ingressasse em crise, teria enorme chances de se recuperar, concorrendo com empresas semelhantes.

Hoje existem novos e melhores prestadores de serviços na venda de livros, e, assim, quando um gigante cai, fica quase impossível levantar-se.

Como um dia mais que profetizou Gertrude Stein, os velhos tempos, de um mundo exclusivamente analógico, de cimento, tinta, cal e madeira, “Existia Um Lá Ali”.

Hoje não existe Lá Mais Ali. O que existe Lá é um mundo absolutamente novo que dá um valor pífio aos serviços que as organizações tradicionais, do modorrento e incompetente mundo velho, ainda prestam...

Repetindo pela enésima vez. Esqueçam crises conjunturais. O tamanho de crise estrutural é de tal ordem que quem não se der conta corre o risco de morrer, acreditando que tudo o que tinha era um simples resfriado. Senta pra descansar, cochila, e, adeus...

Francisco Alberto  Madia de Souza é consultor de marketing
fmadia@madiamm.com.br