Em artigo anterior, tratei do nível de confiança das pessoas nas empresas. De acordo com o Edelman Trust Barometer – pesquisa anual sobre confiança –, pelo segundo no consecutivo, em 2022, somente as empresas superam o nível de corte (60%) que determina se uma instituição é confiável ou não. Nem o governo ou as ONGs ou mesmo a mídia são consideradas instituições confiáveis no Brasil.

Trago mais uma vez esse tema para enfatizar a importância da atitude das empresas perante tal nível de confiança. Como diria Saint-Exupéry, “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Pois é, se os dirigentes de empresas se orgulham dessa confiança, devem também se preocupar com a contrapartida esperada.

Grande parte dos respondentes da pesquisa (mais de 2/3) espera que os dirigentes das empresas assumam um papel ativista por uma melhora da sociedade, perante a inércia dos governantes. De fato, há sinais evidentes de que as empresas estão cada vez mais sensíveis e conscientes do seu papel na sociedade.

É claro que, num ambiente capitalista, as empresas focam o lucro e sua perenidade no mercado. Mas já se sabe que uma atuação empática, respeitosa com o meio ambiente e as pessoas, não prejudica o resultado financeiro da empresa. Ao contrário, estudos comprovam que tal atitude só favorece a performance das companhias.

O capitalismo consciente ganha força nas empresas, deixando no passado as práticas abusivas do capitalismo selvagem, onde o lucro era o único objetivo. Fatos recentes mostram, porém, que, infelizmente, os abusos no tratamento dado por empresas inescrupulosas – ou subcontratadas – a seus empregados ainda persistem.

Perante essa constatação, trago à luz a importância do estabelecimento de uma cultura empresarial coerente com essa nova realidade. Ao adotar um propósito mais nobre, cabe à alta administração disseminar os valores desejados e fazê-los impregnar em todo o tecido empresarial e de seus stakeholders.
Essa é uma tarefa que começa no conselho de administração e deve ser assumida por todos os gestores da empresa.

Pesquisa da KPMG mostra que os temas ESG, DE&I (Diversidade, Equidade e Inclusão) e causas sociais já estão presentes entre os top 10 em relevância na agenda dos conselhos.

E aí aparece a importância do gestor de pessoas em criar a cultura coerente com o propósito da empresa de adotar responsabilidade ambiental e social, além de um ambiente de transparência e ética em todas suas ações.

Será o gestor de RH que traçará estratégia e plano de ação para diminuir desigualdades entre os colaboradores. Será também dele a missão de zelar por um ambiente respeitoso, justo e produtivo.

Caberá a esse profissional disseminar um conjunto de diretrizes de conduta e ética e fazer que haja um relacionamento saudável entre os colaboradores.

Por força da lei, é preciso zelar pela equidade salarial entre mulheres e homens e abrir canal de denúncia para identificar possível assédio no ambiente de trabalho.

Será preciso dar condições aos colaboradores de se comportarem de acordo com as suas preferências, sejam elas sexuais, religiosas ou de qualquer natureza. Será preciso abrir oportunidades inclusivas por meio de ações afirmativas.

Além de tudo isso, cabe a esse superprofissional dar condições para que os colaboradores possam atuar como ativistas por um mundo melhor, não só dentro da empresa, formando comitês de diversidade, por exemplo, mas também fora dela, contribuindo com a participação ativa em causas sociais.

Desde um processo seletivo sem vieses até o cumprimento de metas incentivado, o profissional de RH deve se capacitar para ser o arquiteto dessa construção de cultura organizacional coerente com os princípios ESG.

É um papel nobre, que deve ser reconhecido e valorizado nas empresas.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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