E digo mais. Quando a galerinha – os nossos filhos, netos e bisnetos – finalmente, descobrir o livro, veremos uma corrida em direção aos livros como jamais aconteceu no Brasil até hoje. As três maiores redes de vendas de livro em nosso país quebraram. A Laselva, lojas de aeroportos, em março do ano passado, e, antes do fim do ano, Cultura e Saraiva, recorreram à recuperação judicial. Já o livro vai bem, obrigado. Em especial, o livro de qualidade. As redes sucumbiram por gestão incompetente, precária e de apetite desmesurado. O sistema de comercialização, agravado por gestão medíocre, é que sucumbiu.
Os livros, repito, vão bem, muito bem, obrigado. Cresceram e continuarão crescendo em todos os próximos anos em volume de vendas e faturamento. Até mesmo e porque, o simulacro de livro chamado de livro eletrônico, também mais conhecido por uma de suas marcas, Kindle, naufragou. É péssimo e entediante. Agoniza e deverá morrer nos próximos meses. Um desastre.
Ninguém foi capaz de imaginar, e certamente não será, algum companheiro melhor, mais gostoso, mais prazeroso e mais agregador ao ser humano que o livro. Como já escrevi um dia em artigo, Vinicius de Moraes dizia que o uísque era o melhor amigo do homem. Uma espécie de cachorro engarrafado. Eu digo que o livro é que é o melhor amigo do homem. É o cachorro encadernado e recheado de conteúdo e muita emoção. Mas todo esse longo comentário para compartilhar com vocês sobre o plano de recuperação judicial da Livraria Cultura. Onde manifesta sua intenção de quitar todos os credores até 2033. Quem aceitou esse prazo poderá receber seu crédito com um pequeno desconto entre 20% e 30%. Quem, no entanto, quiser receber antes, em até dez anos, e ainda recusar-se a continuar fornecendo, receberá apenas 30% de seu crédito.
Em seu plano de recuperação, a Cultura, para a melhor compreensão dos credores, apresentou um exemplo: um pequeno editor, com um crédito de R$ 10 mil. Se for um credor parceiro, receberá R$ 7,5 mil, em 48 parcelas trimestrais de R$ 157…, claro, após a homologação do acordo, e com uma carência de dois anos… Objetivamente, as megalivrarias perderam, se é que tiveram em algum momento, e por completo, a razão de ser. Cometeram suicídio de forma dramática e medíocre, passando a vender um monte de outros produtos e concorrendo, com varejistas especializados, em produtos sobre os quais não tinham a menor experiência. Apenas para ocupar os espaços monumentais que receberam de locadores – shopping centers irresponsáveis – porque não tinham o que colocar no lugar, e oferecendo esses espaços quase de graça e totalmente subsidiados. Um mix de gestão incompetente dos gestores de shoppings e ambição desmesurada das duas maiores redes de livrarias. Já o livro… Brilha como nunca!
E ainda sua comercialização evoluiu positivamente em todos os últimos anos com as compras pela internet, pela experiência de compras fantástica que é, por exemplo, comprar livros numa Amazon, e muito especialmente pelo resgate das pequenas livrarias de bairro, agora com um bom café, um cardápio executivo para a hora do almoço, e seres humanos ao lado. Não pode existir nada melhor! Você já apresentou o livro para seus filhos, netos e bisnetos com a mesma emoção e carinho como um dia nossos pais e avós apresentaram para nós? Assim, em breve, nas melhores e pequenas livrarias do Brasil, na Amazon e em comércios eletrônicos de qualidade, a maior e melhor novidade de todos os tempos: o livro. Se hoje estou aqui, merecendo o carinho, a atenção e a amizade de vocês, devo isso, no mínimo 90%, ao livro. Meu cachorro de papel, encadernado e abarrotado de conteúdo que me move a partir do coração.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)