Dizem que passarinho de cativeiro morre se for solto da gaiola. Depois de meses de idas e vindas, o Twitter - que tem o pássaro azul como ícone - foi finalmente vendido para Elon Musk. A história da compra foi uma novela, porque Musk tentou desvalorizar a empresa para forçar um acordo melhor e se arrependeu durante o processo de compra. Este mês, ele disse que prosseguiria com a aquisição pelo preço original de 44 bilhões de dólares, se o Twitter interrompesse a batalha legal contra ele. O que está por trás do aceite dele é que, caso fosse obrigado a comprar por imposição da justiça, ficaria como perdedor aos olhos do público e desvalorizaria ainda mais o valor do Twitter.

Segundo o próprio Musk: “O pássaro está livre”. O desejo do novo dono é tornar a rede uma praça digital com liberdade de expressão. Algo discutível e preocupante para as marcas. Existe um risco claro dos anunciantes evitarem a plataforma, caso o Twitter comece a ser percebido como um ambiente radicalizado. O Twitter já não é a principal plataforma digital para investimento e executivos tendem a evitar riscos desnecessários, portanto, vejo maior potencial de saída do que de entrada de anunciantes. Ainda, anunciantes não gostariam de ver seus anúncios sendo exibidos lado a lado com conteúdos, no mínimo, controversos. E o resultado das incertezas já fizeram grandes players do mercado como a Mondelez, Pfizer, General Mills, Audi e Disney anunciarem a suspensão de compra de anúncios no Twitter. No curto prazo, sim, o faturamento deve cair.

E isso é preocupante, já que os acordos de empréstimos que ele fez com os bancos dependem do aumento da rentabilidade da empresa. Ele precisa garantir para o sistema financeiro que o Twitter vai gerar a receita esperada. Além disso, frente a uma crise global crescente as empresas lucram menos, e o investimento em publicidade tende a cair.

A sobrevivência futura do Twitter, imagino, está em novas formas de monetização. Neste sentido, o movimento de buscar receita com serviços pagos pode estar alinhado à visão de Musk para a plataforma. Uma visão mais radical que espantaria anunciantes, pode ser contrabalanceada com a receita vinda de milhões de usuários que querem este “espaço livre” e estão dispostos a pagar por isso. Vale lembrar que Donald Trump tem dezenas de milhões de seguidores-eleitores, portanto uma receita recorrente mensal de algumas dezenas de dólares por usuário poderia significar uma receita muito relevante para uma empresa que fatura mensalmente aproximadamente 400 milhões de dólares.

Uma das possibilidades apontadas é o Twitter Blue, serviço semelhante ao Youtube Premium, que permite experiência sem interrupção de anúncios de qualquer tipo. No Twitter a assinatura mensal permite aos usuários mais engajados o acesso exclusivo a recursos premium, como edição de tuíte, selo de verificado, entre outros recursos chamados de "premium". Diferentemente da versão anterior, o novo Pássaro Azul vai oferecer o selo de verificação a qualquer pessoa disposta a pagar. Antes, ele era concedido somente a contas de políticos, personalidades, jornalistas e outras figuras públicas.

Se os novos voos do Twitter forem ainda mais altos ou o começo do fim, só saberemos no médio prazo. Mas, com certeza, teremos novas e turbulentas rotas para a empresa no horizonte.

Felipe Bogéa é professor de pós-graduação da ESPM e sócio da agência F2F