Quem me conhece um pouquinho já sabe: eu choro. E não é que choro como todas as pessoas no planeta. Eu fico com os olhos cheios de lágrimas o tempo todo. Do nada. Algumas vezes de até encharcar o rosto, nas mais aleatórias situações.
Em um show, conversando com as minhas filhas, Isadora e Lorena, ouvindo um podcast, assistindo a um filme, numa exposição.

Tá bom, muita gente chora nesses momentos. Mas eu também choro no meio da torcida do Flamengo, num bar com o pessoal do Cachaça, meu grupo de WhatsApp preferido, quando um amigo me conta que o negócio dele está dando certo, escutando uma ideia de uma dupla que está começando na profissão ou apresentando essa ideia para o cliente.

O Rato e a Lu Rodrigues, dois parceiros queridos de agências e épocas diferentes, até passaram coincidentemente a emendar mais ou menos a mesma frase quando choro em reuniões: “É, o JC se emociona com as ideias”.

Depois de pensar muito sobre por que eu saio chorando por aí, cheguei a uma conclusão: o que me inspira me arranca lágrimas. Simples assim. A qualquer momento algo pode me deixar com os olhos marejados.

Não pratico esportes, mas acompanho bastante. O Luka Dončić brilhando, aos 23, ou o Lebron batendo tudo que é recorde, aos 38, me fazem chorar. O respeito, como vimos na despedida do Federer jogando em duplas com o Nadal, me coloca aos prantos. A Serena Williams, idem. As grandes viradas de jogo (alô, Lima 2019), as reviravoltas impensáveis, os retornos triunfantes me fazem quase soluçar. Imagina a minha cara ao ver o Messi ganhar a Copa.

E não existe um tema específico ou um conjunto deles que me faça cair no choro. É randômico mesmo. A posse do Lula me fez pegar um lenço. O Silvio Almeida no Mano a Mano. Os Beatles tocando covers de rockabilly em Get Back, como faziam em Hamburgo, e finalmente voltando a se divertir. O punk rock. Os Racionais MC’s. A letra de Redemption Song.

A observação da Giovana Madalosso sobre o sono agitado das crianças e a relação disso com a capacidade delas de sonhar mais do que os adultos, em Suíte Tóquio. Piadas. O documentário The Beat Diaspora. A feirante que me disse “se eu não confiar nas pessoas, fodeu”, no dia em que me deixou levar a compra sem pagar porque esqueci a carteira em casa.

E, claro, a propaganda me faz chorar.

Superhumans, do Channel 4. Phelps, de Under Armour. Pillow Talk, clássico da Disney. The Talk, da P&G.

E muitas outras ideias. (Existe um movimento de menosprezar a inspiração que vem da própria publicidade, que, para mim, é comparável a rejeitar os políticos na política, e que a gente sabe bem onde dá. Mas isso é papo para outro texto.)

Apesar de os assuntos aparentemente não terem nada a ver entre si, de tanto derramar rios desse líquido que tem o mesmo gosto do soro caseiro, consegui ver três fatores em comum naquilo que me faz verter lágrimas.

A demonstração de como podemos ser gigantes, o fazer e a nossa habilidade de não nos levar tão a sério. Por trás desses fatores, está o humano. O humano é o que me inspira. Pronto, chorei baldes.

João Caetano Brasil é executive creative director da agência Grey Brasil