A mais recente edição do Web Summit, pela primeira vez no Rio de Janeiro, inicia uma jornada de inovação e protagonismo que o Brasil precisa cada vez mais.
É muito potente sediarmos um evento dessa magnitude e ainda melhor trazermos para a mesa exemplos nacionais dos avanços que vivenciamos, além das referências estrangeiras. Durante todos os momentos que vivenciei por lá, tanto como visitante quanto como palestrante, eu percebi o modo como nosso mercado está se expandindo para todos os lados — e como precisamos tomar as rédeas desse crescimento e guiar o futuro, não deixar que ele nos guie.
O que quero dizer com isso é que, em meio a tantas discussões sobre tecnologia e modernização, falta nesse tipo de evento uma atenção maior para o papel humano. Afinal, a inovação é feita por e para as pessoas, e não como uma mera retroalimentação das tecnologias.
O que não significa que falar sobre elas não seja importante; com certeza é! E o Web Summit trouxe conversas extremamente relevantes para diversos setores. O ponto em comum em quase todos os debates foi a inteligência artificial (IA), por exemplo, o que nos mostra como a tecnologia possui uma presença forte e inescapável em toda a sociedade.
Mas o ponto é: são as pessoas que usarão todo esse poder, assim como foram as pessoas que construíram esse evento de maneira tão impactante. A intensidade da troca, a variedade de temas e os palestrantes de múltiplas nacionalidades é o que torna possível gerar insights, trazer reflexões, e tangibilizar a inovação.
Algumas pessoas destacaram esse lado da moeda. No meu caso, talvez minha principal contribuição tenha sido ajudar o público a criar uma camada de significado maior sobre o que está acontecendo no ambiente de disputa de talentos. Além disso, tentei trazer a perspectiva de que esse é apenas um dos elementos que nos sinaliza a importância de repensar a forma como fazemos negócio e utilizamos a tecnologia.
Apesar de não ser um discurso que predominou, ele foi fortalecido por palestrantes como Brian Collins e Fred Gelli, que também trouxeram o ser humano como centro do processo. Essas mensagens ressoaram muito positivamente. Do palco, mesmo, eu via as pessoas acenando positivamente com as cabeças e várias me procuraram depois para agradecer ou parabenizar pelas palavras.
Portanto, quando paro para pensar em tudo que o Web Summit Rio proporcionou, acredito que o principal é o pontapé que ele deu para o futuro que vamos criar juntos. Alguns temas foram bastante discutidos, outros nem tanto, mas todos contribuíram para reflexão de quem esteve por lá de mente aberta e disposto a aprender.
Em outras palavras, acho importante avaliar essa primeira edição na perspectiva do que o evento pode ser, e não apenas do que foi. Sabemos que ele permanecerá e crescerá no Rio de Janeiro, então podemos nos perguntar: o que queremos extrair dele? Em que ele nos ajuda a desenvolver o ecossistema brasileiro de negócios e inovação? Qual o impacto que poderá ter sobre outros eventos?
É responsabilidade nossa responder essas perguntas e muitas outras. Os organizadores foram muito bons em promover um encontro icônico, mas para que ele realmente reflita a nossa realidade, é nosso papel protagonizar essa evolução. Acredito que precisamos envolver outros players no Brasil para utilizar o Web Summit como alavanca de sensibilização política e social, mas, mais uma vez, não espero isso dos organizadores e sim da comunidade de tecnologia brasileira. Gostaria de ver comitivas de políticos participando, entendendo o que vem pela frente e escutando demandas de regulação, riscos de segurança, entre tantos outros assuntos.
Para fazer tudo isso acontecer, voltamos à ideia lá do começo: centralizar no humano, com apoio firme na tecnologia. A partir de ações concretas de mudança, muita reflexão e ciência comportamental, o Brasil pode alcançar todo o seu imenso potencial, e os próximos Web Summits no Rio terão cada vez mais inovações verdadeiras e disruptivas para apresentar ao mundo.
Renata Horta é sócia fundadora e diretora de novos serviços e parcerias na Troposlab