Os sons ajudam a orientar os seres humanos desde que o mundo é mundo, seja para reconhecer uma situação de perigo ou para se localizar no espaço. Hoje em dia, com todos os recursos do mundo moderno, muitas vezes o som passa despercebido. É preciso atenção para notar toda a complexidade e riqueza de detalhes das ondas sonoras que nos rodeiam. De olhos fechados, é a reverberação do som no espaço que nos indica se estamos no meio de um galpão ou dentro de um banheiro. Também é possível perceber o ambiente quando recebemos um áudio pelo celular. Estar atento a isso é um exercício constante de afinar o ouvido e a cabeça, mas, para quem é realmente apaixonado, essa atenção acaba virando um divertido exercício que nos ensina a ouvir o mundo e enxergar a vida.
O mais curioso e bonito disso tudo é que, no fim das contas, o som não existe. Quer dizer, não existe materialmente, não é nada palpável e tangível: o som é mero instante. Ele existe naquela fração de segundo e apenas para quem o ouve. Quem garante que a queda de um raio no meio do deserto fez algum barulho se ninguém estiver lá pra ouvir? O som é a transmissão de vibrações através das partículas do ar, que entra nos nossos ouvidos e faz vibrar uma pequena membrana chamada tímpano, e são então decodificadas pelo cérebro. Um microfone comum capta o som de uma forma bem parecida, existe uma membrana interna que vibra junto com a fonte sonora, e assim ele nos ouve. Uma caixa de som faz exatamente o contrário, o falante se movimenta para frente e para trás de acordo com o formato de onda do arquivo que damos play, aplicando uma vibração no ar que, por sua vez, faz mexer o nosso tímpano e acaba virando, literalmente, música para os nossos ouvidos.
Entender esse componente físico do som é essencial para qualquer tomada de decisão em um projeto de áudio, pois, independentemente do conceito ou do caminho abstrato que uma trilha sonora ou uma música podem assumir, é esse aspecto técnico que determina como o sistema biológico dos seres humanos vai interpretar o som. No fim, o segredo é esse: esculpir as vibrações do ar com carinho e primor.
A música tem um poder impressionante, ela pode mudar completamente o sentido
de uma peça visual. Numa busca rápida pela internet, não faltam exemplos de cenas dramáticas de filmes icônicos que, com uma trilha sonora mal utilizada, perde-se toda a emoção, toda a força ou toda a graça. Também não faltam memes engraçadíssimos nas redes sociais que colocam sertanejos, piseiros e outras músicas regionais por cima de vídeos de bandas de heavy metal, por exemplo — com um belo trabalho de edição e sincronia, diga-se
de passagem.
Ah, desculpe a indelicadeza, quando começo a falar do que amo eu esqueço do mundo e acabei nem me apresentando. Tenho 32 anos, sou produtor musical há 15 e completamente apaixonado por música desde que me entendo por gente. Por ser arquiteto de formação, inevitavelmente eu percebo como a música se comporta no espaço. Comecei minha atuação no audiovisual fazendo trilhas sonoras para o mercado da moda, tanto para desfiles quanto para mídias sociais, o que me ajudou a desenvolver um olhar com apelo estético afiado e me permitiu produzir trabalhos em que eu pude colocar as próprias referências e construir a minha assinatura. Hoje sou sócio e diretor musical do Bloco, studio criativo de trilhas sonoras e projetos de áudio que atende agências, marcas e outros artistas. E dizer que nós temos consciência de todo esse poder do som ainda seria pouco: nós vivemos disso e temos certeza que viemos até aqui exatamente para isso.
Marcelo Gerab é sócio e diretor musical do Bloco Studio