Claro que a comunicação do governo Lula não é tão ruim quanto a do governo Bolsonaro, apesar da notável contribuição do Ministério das Comunicações para a conquista da medalha de Ouro em tosquice, ao manipular a foto do podium, em que Rebeca Andrade é reverenciada por Simone Biles e Jordan Chiles.
A questão é: por que essas coisas acontecem? E a resposta é bem simples: porque, faz tempo, o amadorismo deixou de ser um empecilho para que qualquer um se atreva a fazer e publicar anúncios, em nome do governo federal.
Governos demasiadamente ocupados por “companheiros”, sejam de esquerda, sejam de direita, costumam relaxar, principalmente nas áreas em que os critérios técnicos são tomados por mais subjetivos, como interpretam ser o caso da propaganda.
Um companheiro espirituoso, que no entendimento de seu chefe, teve uma “sacada”, provavelmente será premiado com a produção e a veiculação da sua ideia, sem que ela seja submetida à avaliação de nenhum profissional.
Quem não lembra do bolsonarista, ministro do Turismo gaiteiro, discorrendo sobre o Brasil com um inglês macarrônico, num vídeo horrendo, na tentativa de prospectar turistas australianos?
Ou do bolsonarista presidente da Embratur apresentando a pavorosa nova logomarca da empresa, feita em casa, quem sabe por algum ex-colega de farda do Bozo. Sim, sem esquecer do estupendo slogan, “Brazil. Visit and love us”. Ah, mas também o que esperar do Bozo?
Pois é, mas o princípio é o mesmo que levou à postagem sobre “inclusão digital”, e que apagou Rebeca da foto e a substituiu por um laptop, provocando um vexame intergaláctico.
E atenção: não satisfeito com tamanha cagada, o Ministério das Comunicações, debaixo de uma tempestade de críticas, não se furtou a outra, na tentativa de se corrigir: devolveu Rebeca à foto, agora cercada por um monte de assinaturas estúpidas de programas federais, repetindo o desrespeito com o significado da foto e com a sua estética original.
A escalada de cretinices continuou, num comunicado pessimamente redigido, em que, capengando pela língua portuguesa, acaba afundando de vez na própria lama. Ou seja, trata-se de um ministério sem ministro, sem chefe, sem responsável, um ministério casa-da- mãe-Joana.
As agências de publicidade são negócios privados, mas a publicidade dos governos é um negócio público, inclusive porque é paga com dinheiro público.
Se uma agência faz um anúncio ruim para seu cliente, empresa privada, o problema é deles. Se o governo faz um anúncio ruim, sozinho, o problema é de todos.
Como cidadão brasileiro, não autorizo que o Ministério das Comunicações cometa sandices usando o nome do Brasil. Lula, que foi domesticado para a propaganda por Duda Mendonça, sabe, pelo menos, o lado de onde o galo canta, em termos de qualidade criativa e estética na comunicação.
A menos, portanto, que aceite ver uma das áreas mais sensíveis no desenho da imagem do governo adotar um padrão de gosto bolsonarista, precisa dar uma urgente limpada na área, começando pelo próprio ministro.
Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
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