Com sete anos de idade virei atleta de um esporte pouco conhecido no Brasil: o volteio. Uma espécie de ginastica olímpica, em equipe, meio circense, em cima de um cavalo em movimento. No volteio, a garantia da saúde física e até da sobrevivência está alicerçada em dois pilares: Autoconhecimento e Confiança.

Descobri, com grande esforço, que era fundamental saber me controlar, controlar meu corpo, conhecer meus limites, entender que se eu não conseguisse me interpretar poderia me machucar e machucar as outras pessoas. Mas o inverso também era verdade e, já que pessoas podiam me machucar nesse esporte coletivo, logo aprendi que confiar no outro era tão fundamental quanto confiar em mim mesma. Sobe um, sobe dois, sobe três no cavalo e qualquer receio ou trava é tombo anunciado!

Nessa época eu era muito criança pra entender o impacto que essa experiência teria na minha vida. Hoje, mais de 30 anos depois, consigo com clareza enxergar a preciosidade desse conhecimento que me foi introjetado de uma forma tão espontânea e insconsciente.

Quando fui convidada pra escrever essa coluna Inspiração, saí fazendo listas (sou a louca das listas!). Saí colocando no papel as referências do que ouço, acompanho,
papers, matérias, artistas, músicas, livros, cursos... De repente, em meio a listas e listas, me vi lá no alto do cavalo com 7 anos de idade participando de campeonatos internacionais, com uma técnica alemã, uma equipe de pessoas mais velhas, o incentivo dos meus pais e uma responsabilidade que nem cabia pra uma criança da minha idade... Na minha cabeça, uma pergunta gritava sem margem pra ser ignorada: o quanto as minhas referências seriam de fato referências para outras pessoas?

É tão difícil a gente se sentir atual nos dias de hoje. É impossível acompanhar tudo, ser profundo em tudo.

Mas acredito que não é difícil sermos profundos no que nos torna nós mesmos. Humanos. Acredito ser possível conhecermos nossas fortalezas – e elas são importantes – e conhecermos também nossas fraquezas. Sermos capazes de admitir não saber, errar, ter espaço pra melhorar, se apoiar e aprender com outras pessoas sejam elas parceiros, clientes, equipes, amigos...

Fazendo um exercício interno para descobrir o que me inspira, qual o fio condutor da minha vida, descobri que quando parei de tentar estar conectada com toda essa maluquice que acontece fora de mim, fui capaz de reencontrar o que permanece e é ferramenta de conexão pra fora.

Eu me inspiro em pessoas e nas relações humanas.

Na busca pelo que é constante, não o que é novidade, moda, contemporâneo.
Eu me inspiro nos sentimentos “base”: respeito, admiração, desafio, pertencimento, parceria, amor. Sempre fui apaixonada por gente, por relações humanas, as mais viscerais. Acho que nelas encontramos a chave e o ouro de tudo. “Carol, então por que não foi ser psicóloga?” Ah! Precisaria de uma outra matéria pra essa resposta.

Mas as marcas para mim são como pessoas. Elas se comportam como pessoas. Têm famílias, valores inegociáveis, princípios, propósito (quando bem construídas). E quando não têm, a terapia pra encontrá-lo e revelá-lo é enorme e de muito autoconhecimento. (Eu amo!)

No limite, as marcas são feitas de pessoas. Já parou pra pensar que o único elemento não copiável de uma marca são as pessoas que compõem aquela empresa, aquela experiência, aquela relação?

Assim, o convite que faço é voltar às bases. Eu te convido a, mais do que buscar a última referência, o último post, o último sucesso musical, o último artista, o último influenciador; encontrar o que é estável, o que é base. Deixo aqui pra você um “oi sorridente” dessa menina, lá no cavalo de cabeça pra baixo, ingênua de tudo... mas que aprendeu, desde muito muito cedo, que a base das relações – com ela mesma e com o mundo – está fundamentada no autoconhecimento e na confiança. Ela sofre pra caramba, leva muitos tombos desse “cavalo”.

E levanta de cada tombo um pouco mais forte, mais construída pra vida, com a certeza absoluta de que o enduro é longo, cheio de obstáculos, mas com paisagens de tirar o fôlego! Acredito que se todos nós buscarmos o que é constante, nos encontraremos no mesmo lugar.

Carol Mello é head de estratégia e sócia da Galeria