Fale bem ou fale mal, o Big Brother Brasil não sai da boca do povo e é um dos assuntos mais comentados do momento. Prestes a completar dois meses no ar agora em março, o programa não vem apresentando um bom índice de audiência na televisão aberta, onde é transmitido ao vivo todas as noites para o país inteiro. A audiência do BBB 23 é a menor e a pior já registrada na história, marcando apenas 18,3 pontos no geral.
É difícil acreditar que uma edição com um elenco acertado e com bons enredos esteja repercutindo tão mal em rede nacional. Afinal, se compararmos com o BBB 22, que era cheio de pessoas consideradas ‘plantas’ e que se recusavam a jogar – promovendo o lema de paz e amor – esse ano temos diferentes tipos de jogadores, que travam batalhas e embates de quarto x quarto desde a primeira semana.
Se a maioria dos participantes não tem medo de se comprometer, onde será que está o comprometimento do público para com o programa? Eu acredito que um dos motivos da baixa audiência na TV esteja relacionado à pandemia da Covid-19. O momento atual é de controle da doença, o que fez com que muitas pessoas retomassem suas rotinas de atividades, não ficando necessariamente em casa na hora em que passa a edição.
No entanto, esse número baixo de audiência do reality show na TV aberta não significa necessariamente que o BBB 23 flopou. Afinal, com os recursos e avanços das redes sociais, o Big Brother Brasil já deixou de ser um entretenimento exclusivo da televisão, sendo consumido pelos mais variados tipos de formatos e difundido por diferentes meios e canais, principalmente pela internet.
Boninho, o diretor de criação do programa, vive compartilhando dados e informações nas próprias redes sociais sobre o desempenho do reality show, que entrou para os assuntos mais falados do Brasil no Twitter todos os dias desde a estreia, além de ter virado trend com o #BBB23. No primeiro mês, arrematou 20,9 milhões de tweets, se tornando o programa mais comentado do Brasil e do mundo. O que confirma o quanto o comportamento de consumo mudou, e se descentralizou, algo que não é alarmante, mas que reforça que não é só por um único canal que o conteúdo deve ser consumido, e sim por diferentes, e ao mesmo tempo.
Esses números já demonstram a força e o poder das redes sociais sobre o programa, especialmente o Twitter, que permite comentar o que está rolando na casa mais vigiada do Brasil em tempo real. Muitas pessoas utilizam a rede social para puxar mutirão para eliminar participantes, expor possíveis erros de prova e alertar sobre situações vistas como incoerentes. Isso faz com que uma parcela do público acompanhe o Big Brother pelas redes sociais, deixando a TV aberta em segundo plano.
Aliado a isso, está o fato que o BBB é o produto mais assistido do streaming Globoplay, representando cerca de 75% do que é consumido dentro da plataforma. Os dados são do Google Analytics, e se referem ao período do mês de janeiro, quando o reality show estreou. O que também pode provocar uma queda na audiência da televisão, já que uma parte dos espectadores acompanha direto pelo Globoplay.
Dados da Kantar IBOPE Media, afirmam que 40% da faixa etária que mais assiste BBB é de 18 a 30 anos, ou seja, um grupo das gerações Z e millennials que domina as redes sociais e cada vez menos está sentado em frente à TV. É o que confirma pesquisa de 2022 feita pela Ofcom, agência reguladora britânica, apontando que jovens assistem quase sete vezes menos televisão do que pessoas com 65 anos ou mais, passando menos de uma hora vendo o aparelho.
Novamente voltamos às questões das redes sociais e percebemos que o Big Brother já furou a bolha há tempos, sendo um fenômeno multimídia que consegue promover com maestria as marcas que o patrocinam, atuando como uma espécie de vitrine. Inclusive, a 23ª edição bateu um grande recorde neste quesito, acumulando mais de 30 patrocinadores, o que fez até com que o prêmio do reality show para o ganhador aumentasse depois de anos sendo 1 milhão e meio de reais.
As marcas sabem que o BBB conversa com um público diverso e que vai muito além da televisão, sendo capaz também de causar grande impacto no meio digital, por isso investem e acreditam nesse tipo de publicidade. Ibope e audiência na televisão aberta importam, mas hoje em dia não são os únicos fatores relevantes e que contam na hora de dizer que um programa está indo bem ou mal. E nesse sentido, o BBB 23 não está nada mal.
Luiz Menezes é fundador da consultoria de negócios Trope